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Quem foi Bertha Pappenheim?

Tempo de leitura 5 min.

O objetivo do post é dividir aqui com você um pouco sobre a vida de Bertha Pappenheim, a paciente de Breuer, médico e colega de Freud, conhecida pelo caso Anna O. Esse caso é considerado o fundador da Psicanálise. O que fez Bertha após o seu tratamento até a sua morte? Saiba um pouco sobre ela por aqui…

Bertha Pappenheim era uma jovem de Viena, nascida em 27 de fevereiro de 1859, na Alemanha e faleceu em 28 de maio de 1936, aos 77 anos. Foi assistente social, escritora e líder do movimento feminista.

Bertha Pappenheim nasceu em Viena. Seus pais Sigmund era da Hungria e sua mãe Recha, era Alemã, nascida em Frankfurt. A Família era composta pelos pais e mais 4 filhos, sendo os outros três: Henriette (1849-1865, Flora (1853-1855) e Wilhelm (1860-1918). Seu pais eram ricos, judeus e religiosos.

Como a maioria das meninas de sua época, Bertha Pappenheim, após as atividades escolares, se dedicava a treinar para se tornar uma dama perfeita preparada para realizar um bom casamento. Tinha uma vida monótona, se dedicando a um trabalho de caridade, leituras e bordados.

Bertha fazia parte da aristocracia vienense e era uma jovem que sofria com o controle intenso de seus pais, que não se podia fazer praticamente nada que se queria aos 20 anos. Era uma garota bem mimada pelo seu pai, e cuidou do mesmo, que apresentava um quadro de tuberculose, causa de sua morte.

Bertha era poliglota, falava hebraico, francês, italiano, inglês e sua própria língua alemã. Estudou em uma escola católica particular somente para moças.

Bertha paciente de Josef Breuer

Bertha Pappenheim foi uma paciente de Josef Breuer, médico e fisiologista austríaco, que viveu no período de 1842 a 1925. Dr. Breuer a tratou durante dois anos, entre 1880 e 1882.

Dr. Breuer, 14 anos mais velho que Freud e um dos médicos mais respeitados da Áustria, tem uma relação com Freud como a do mestre e seu discípulo. O nome da primeira filha de Freud Mathilde, nascida em 1887, era o nome da esposa de Breuer.

Dr, Josef Breuer

Bertha Pappenheim, cujo seu pseudônimo, nos estudos da Histeria, era Anna O. que está diretamente ligado ao início da psicanálise.

O caso Anna O.

Bertha foi paciente de Josef Breuer, durante dois anos, onde buscou seu tratamento através dos métodos aplicados por Breuer, na época, como a hipnose , catarse.

Ao se dedicar aos cuidados de seu pai enfermo, ela começa a apresentar alguns sintomas, iniciando com uma tosse muito intensa, fato que levou a ser examinada pela primeira vez pelo Dr. Breuer. Além da tosse, surgem novos sintomas, como alucinações, dores no corpo, sonambulismo, ausência de consciência, estrabismo. Esses seus sintomas fez com que Anna O. se afastasse dos cuidados de seu pai, vindo a vê-lo em períodos curtos.

Após a morte do pai, no dia 05 de abril de 1881, os sintomas começaram a se intensificar, como deixar de reconhecer pessoas por exemplo, a não ser o próprio Dr. Breuer e, ainda, começa a apresentar sintomas mais intensos, tais parar de comer e beber e até chegou a apresentar ideias de suicídio, o que, por precaução, levou a se mudar para o campo e, ainda, deixa de falar sua língua alemã e passa a falar somente em inglês.

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Anna O.

Durante o dia, ela apresentava alucinações e havia momentos em que se encontrava bem. Mesmo distante de Viena, Dr. Breuer continuava com o seu tratamento.

Bertha interrompe o ciclo da hipnose, o que chamava de cura pela fala e limpeza da chaminé (significando que falar, sem ser interrompida, colaborava com aliviar seus sintomas.

Mais tarde, um fato que assustou o Dr. Breuer levando-o a deixar de atendê-la, foi quando Bertha se torcendo em dores abdominais se dirigiu ao médico dizendo: “agora vem o filho do Dr. Breuer”. Assim, após esse episódio, Dr. Breuer a encaminha para outro colega, Dr. Robert Biswanger, que solicita o internamento de Anna O. Esse episódio de Anna O. seria mais tarde o que Freud nos fala sobre o amor de transferência no tratamento psicanalítico.

Freud após publicar em 1891 os estudos sobre Afasia, convence Dr. Joseph Breuer a escreverem junto o caso Anna O.

Alguns anos mais tarde, Sigmund Freud e Dr. Josef Breuer escreveram o primeiro artigo e mais tarde, em 1895 “Estudos sobre a Histeria“. Mais tarde, Breuer e Freud rompem a amizade por divergir sobre sobre a importância da sexualidade na origem dos sintomas da histeria, o que Breuer não concordava.

Durante vários anos Bertha se tratou, buscando melhora para seu estado neurótico, tendo sido, inclusive, internada inúmeras vezes entre 1881 e 1887. Após sua melhora, Bertha vai se estabelecer em Frankfurt junto com sua mãe e ali começa a escrever uma nova história em sua vida.

A vida de Bertha após sua melhora

Após sua melhora, Bertha com nova energia, queria também ajudar a curar os outros. Em Frankfurt se engaja em entidades filantrópicas judaicas, trabalhando como voluntária em orfanatos, cozinhas comunitárias e cuidados com as meninas, criando em 1900 um clube, uma creche e aulas de costura.

O seu trabalho filantrópico não parou por ai. Criou um Instituto onde se dedicou por 29 anos de nome Weibliche Fusorge – “uma organização de Assistência à Mulher, voltada ao atendimento de mulheres e crianças, abrigando mães solteiras, seus filhos e jovens resgatadas da prostituição”.

Aos 45 anos, no ano de 1904, criou a JFB uma Liga de Mulheres Judias, que tinha como objetivo lutar pelos direitos da mulher. Trabalhou pelas causas sociais até a sua morte em 1936. “A JFB era uma organização singular, que aliava os objetivos feministas, sem aderir ao feminismo radical, com um forte senso de identidade judaica. Sua campanha era centrada em expandir o papel das mulheres na comunidade judaica, fortalecer a conscientização comunitária entre os judeus; oferecer treinamento vocacional às mulheres e combater um dos grandes males da época – “o tráfico de escravas brancas”. A organização mantinha lares juvenis, asilos e locais para atender tuberculosos. Foram criados um posto médico para crianças e uma colônia de férias.”

Em 1905, Bertha perde sua mãe e inicia suas viagens sozinha começando pela Grécia e visita países do Oriente Médio, com o objetivo de lutar contra a prostituição e o tráfego das escravas brancas.

“Em 1907, já com 50 anos, essa mulher valente fundou um lar para moças à margem da sociedade, “The Home for Wayward Girls”, próximo à cidade de Neu Isenburg, voltado à educação de jovens judias e seus filhos. Durante os anos em que o dirigiu, mais de 2.000 mulheres e crianças foram atendidas. A instituição era o âmago, a alma de todo o trabalho social desenvolvido por Bertha. Ela acreditava que era “tarefa divina dos judeus do mundo inteiro assegurar a ‘força da família'”. Por isso, ela estruturou a nova instituição como uma grande e tradicional família judaica, guiando a educação que as crianças recebiam no Lar pelas milenares tradições judaicas.”

Bertha, ainda, foi tradutora, escritora de contos de fadas e peça teatral. Publicou no ano de 1912, um livro onde descreve a angústia das mulheres judias da Galícia e Oriente Médio.

Em 1924, ela se aposenta da Presidência da Liga, porém se mantem ativa, morando na casa para mães solteiras em Neu Isenburg.

Mesmo com a idade mais avançada, aos 76 anos, Bertha levou um número considerável de crianças para um Orfanato em Glasgow, na Escócia, para se libertar da Alemanha Nazista.

Bertha morre em 28 de maio de 1936, devido a um câncer no cérebro, na cidade de Isenburg e foi enterrada no antigo cemitério judeu em Frankfurt.

O selo postal de Bertha Pappenheim com o rosto foi emitido em 1954
selo de Bertha Pappenheim

“Bertha Pappenheim era uma heroína na Alemanha até que seu nome foi apagado durante o Holocausto. Ironicamente, um selo postal com o rosto foi emitido em 1954 pelo ex-governo da Alemanha Ocidental, como parte de uma série intitulada “Ajudantes da Humanidade”. A identidade de Anna O. não se tornou conhecida até 1953, quando Ernest Jones, biógrafo de Freud, violou o código de confidencialidade, uma ação protestada abertamente pela prima de Bertha e executora de sua propriedade.”https://www.ontheissuesmagazine.com/1996fall/f96_GUTTMAN.php

Enfim, Bertha Pappenheim em seu tratamento que é considerado o caso início da psicanálise, pode nos fazer pensar que, o fato de uma pessoa em um determinado tempo, devido a algum trauma ou episódios que a vida possa oferecer e possa desestruturar a pessoa, não significa que isso possa ser uma condenação para o resto da vida. Bertha Pappenheim dá-nos a prova, já naquela época, que é possível trabalhar os seus sintomas e seguir sua trajetória de vida, se reinventando a cada momento.

Aproveite para ver por aqui outros assuntos sobre psicanálise:

https://blogdamaricalegari.com.br/2017/09/21/freud-e-seus-filhos-na-vida-familiar/

https://blogdamaricalegari.com.br/2017/04/27/a-primeira-e-unica-viagem-de-freud-a-america/

https://blogdamaricalegari.com.br/2017/04/03/wilhelm-fliess-x-freud/

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https://blogdamaricalegari.com.br/2017/09/12/como-foi-o-crime-das-irmas-papins/

Era isso por hoje.

Obrigada pela sua visita. Você é sempre bem vindo(a) por aqui.

Um abraço.

Referências:

https://jwa.org/encyclopedia/article/pappenheim-bertha

http://www.morasha.com.br/biografias/uma-mente-apaixonada.html

https://www.ontheissuesmagazine.com/1996fall/f96_GUTTMAN.php

4 respostas

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