Oi gente
O post de hoje se refere a Lou Andreas-Salomé, uma das primeiras mulheres a ser aceita no grupo de psicanalistas de Viena. Pode se dizer que era o tipo de mulher bem a frente de seu tempo, uma mulher que estava em busca de sua felicidade, apesar das dificuldades impostas à mulher em sua época. Saiba um pouco sobre ela por aqui…
Embora já tenha feito um post por aqui, onde Salomé está presente, resolvi escrever esse específico sobre ela, por achar interessante a forma como vivia em seu tempo, contrariando todas as formalidades impostas à mulher.
Salomé nasceu em S. Petersburgo em 1861, no dia 12 de fevereiro, na Russia. Seu nome de nascimento era Louise Gustavovna Salomé, o nome se referia a sua mãe que, também, se chamava Louise Wilm e seu pai Gustav Von Salomé, um elegante e educado senhor da guarda nacional Russa. Sua mãe era 19 anos mais nova que o pai.
Salomé foi criada em uma família abastada e foi a filha preferida do pai, recebendo mimos por ser a filha caçula.
Lou e Hendric Gillot
Gillot era um pastor de origem Holandesa que viveu no período de 1836 a 1916 e Lou que nesse momento estava com seu pai em estado terminal em um hospital, recebeu a recomendação de um parente para acompanhar um sermão do pastor Hendrik Gillot.
Lou com apenas 17 anos, se apaixona imediatamente pelo pastor que tinha 25 anos a mais que ela. O pastor era casado e tinha dois filhos de idades semelhantes a Lou. Mais tarde, ela diria que esse foi o seu primeiro amor.
Foi Lou quem escreveu uma carta ao Pastor Gillot, mas não para falar sobre assuntos cristãos e dessa carta marcam um encontro, onde nesse encontro ele a recebe e diz: “Você vem para mim?”. Surgem a partir daí encontros secretos, onde Lou vai visitá-lo com mais frequencia e mais tarde, o Pastor se propõe a ensinar Lou. “Os assuntos com os quais lidaram eram inicialmente mais de natureza histórica e filosófica-religiosa e mais tarde de natureza mais filosófica. Gillot ensinou sistematicamente sua filosofia. Em particular, eles leem Kant juntos, em holandês. (…) Mais tarde, Gillot convence Lou a contar sobre eles a sua mãe e ela acusa o pastor sobre o relacionamento e o mesmo responde”Eu quero ser culpado dessa criança”
Com Gillot Lou aprendeu assuntos sobre história, filosofia e religião. Os dois liam Kant em holandês e, em alguns momentos, era Lou que escrevia alguns sermões para ele.
Lou perde seu pai, no dia 23 de fevereiro de 1879. Gillot foi aquele que a fez pensar em uma forma de viver sua liberdade “Ele a apresentou à vida espiritual que ela ansiava e abriu suas perspectivas para um mundo livre de laços e convenções. Dessa maneira, ele poderia tomar o lugar que estava vazio desde a perda do ente querido de sua infância, vendo-o “sob o véu da idolatria”.
Gillot, agora apaixonado, fez os preparativos para o seu divórcio escondido de Lou e logo propõe casamento a ela, a qual o recusou. Lou, nesse momento não estava interessada em casamento e relações sexuais e mesmo chocada e decepcionada com o desenvolvimento da situação, Lou manteve amizade com Gillot.
Com a morte do pai, passado algum tempo, Lou e sua mãe decidem ir para para Zurique, na Suíça, com a finalidade de prosseguir em seus estudos.
Lou em Zurique
A Universidade de Zurique era uma das poucas escolas que aceitavam estudantes do sexo feminino.
Salomé, com 19 anos, deu início aos seus estudos de História da Arte e Teologia. Lou era muito estudiosa, dedicada e admirada, era uma jovem muito independente para sua época.
Durante esse período, Salomé adoece com um problema no pulmão, possivelmente a tuberculose, chegando a tossir sangue. Devido a doença, foi orientada para que procurasse um lugar com clima mais quente para que pudesse se recuperar. Salomé e sua mãe, no ano de 1882, decidem ir para Roma.
Lou em Roma e seu encontro com Nietzche e Paul Rée
Em Roma, Lou conhece pessoalmente Malwida von Meysenbug, uma escritora alemã, feminista ativista, uma advogada da justiça social e idealista da liberdade humana, sendo admirada pela elite revolucionária europeia. “Lou tinha lido as memórias dessa mulher e com ansiedade esperou encontrá-la. Malwida a recebeu com bondade e adotou-a como filha.”
Malwida era muito conhecida por vários intelectuais e cuidava da saúde de Nietzche, bem como tinha entre seus visitantes Paul Rée, filósofo alemão e amigo de Nietzche. Salomé, uma jovem muito bonita, chamou a atenção dos dois grandes filósofos e amigos. Com a convivência, os dois filósofos se apaixonaram por ela e “fizeram um projeto de viver um ano juntos como a “Santíssima Trindade”. Mais tarde, pediram em casamento, porém nem um nem outro foi aceito por Salomé.
Após a melhora de Lou Salomé, sua mãe resolve levá-la de volta para casa e os dois apaixonados combinam de encontrar as duas e seguirem juntos à Suíça. Os amigos e concorrentes acabam se separando por ciúmes. Lou e Nietzche chegou a passar um mês juntos, o que levou Nietzche a romper com sua irmã Elizabeth que não concordava com esse relacionamento.
Mas tarde, Lou resolve fugir com Paul Rée, o que deixou Nietzsche profundamente arrasado. Mas Lou explicou a Nietzche que o amor que sentia por Paul Rée era apenas um amor intelectual.
“Lou vai encontrar com Rée e vivem juntos em Leipzig deixando Nietzsche desesperado com a ideia, até que compreendeu que Lou não voltaria para ele. Em sua biografia Salomé se refere a uma amizade muito profunda e não a um caso amoroso Lou vs Nietzsche. Essa relação teve muitos desdobramentos que incluem a irmã de Nietzsche, que nunca simpatizou com Lou e alimentou o desafeto entre os três. O filósofo se referiu a Salomé assim: “astuta como uma águia e corajosa como um leão, mas, ainda assim uma garotinha muito feminina” (FORRESTER, 2011, p. 371).” http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-34372017000200018
Há quem diga que Lou foi o grande amor de Nietzche e que esse amor não correspondido foi um dos motivos de agravamento de sua doença que o levou a morte, em 25 de agosto de 1900.
O fim de seu relacionamento com Rée
Rée estudou medicina e filosofia e autor de Psychologische Beobactungen e foi apaixonado por Lau.
Em 1885, alguns motivos levaram ao rompimento de Lou com o filósofo Rée: o sucesso do livro de Lou, escrito por ela aos 23 anos, “Uma luta por Deus”; “o sentimento de fracasso que Rée sentia por muitos de seus sonhos não terem sido concretizados” e o fato de Lou ter conhecido Friedrich Carl Andreas, professor de línguas e estudioso das sociedades e culturas do Oriente Próximo e Extremo Oriente.
Paul Rée e Lou, inicialmente deixaram de morar na mesma casa e passaram a se encontrar somente nos finais de semana e, por volta da primavera de 1887, terminam definitivamente seus relacionamentos.
Rée desesperado e deprimido, “segue para Oberengadin e, em Celerina, Suíça, propôs-se a trabalhar como médico da população carente.” (…) Ali se suicidou, atirando-se de um penhasco.
Em 28 de outubro de 1901, Paul Rée comete suicídio e seu corpo foi encontrado no Rio Inn, “próximo ao local onde 15 anos antes ele e Lou tinham passado bons momentos”.
Lou e Friedrich Carl Andreas
Friedrich Carl Andreas, quando conheceu Lou, tinha 41 anos e ela 26. Andreas vivia em Berlim, mas de repente “bateu à porta de Lou para conhecê-la, não se sabe por quê. (…) Foi decisivo para ambos!”
Carl Andreas era orientalista, se dedicava aos estudos do Oriente Próximo e Extremo Oriente e era professor de linguas. No período de 1883 a 1903, deu aulas particulares em Berlim em turco e iraniano e, mais tarde, na Universidade de Gottingen, foi professor de filologia.
Essa mulher, muito a frente de seu tempo, despertava sentimentos avassaladores em seus pretendentes e com Carl Andreas, não foi diferente.
Em 1886, os dois resolveram viver juntos, após “oito meses de dúvidas e confrontos, e isso sob chantagem de Andreas, que tentou se suicidar para forçá-la a se casar com ele, enfiando um faca no peito, que felizmente quebrou antes de alcançar o coração.” Vale lembrar o que Lou pensava sobre o casamento:
[Do livro Quando Nietzsche Chorou]
Casamento? Não, não para mim! Oh! Talvez um casamento de meio-expediente; isso poderia servir-me, mas nada que me prendesse demais.
Lou Salomé
Em 1887, os dois acabaram se casando no civil, na cidade de São Petersburgo. Na convivência entre os dois, Lou se recusava a envolvimentos sexuais, situação em que Andreas não concordava e assim, Andreas chegou a ter dois filhos com a governanta da casa. Um de seus filhos veio a falecer e a outra filha residia próximo ao casal. Apesar de outras paixões de Lou por outros homens, os dois continuaram casados por 43 anos e essa filha de Andreas com a governanta viria a ser herdeira de Lou.
Já no início do casamento, vale lembrar que Lou já tinha sucesso e independência financeira o que lhe permitiu, após alguns anos de casada, a viajar sozinha pela Europa e, durante essas viagens, Lou se permitia a uma relação aberta conhecendo e se envolvendo com outras paixões. “Lou Andreas-Salomé viajou por toda a Europa, embora sempre tivesse uma cidade alemã como ponto de referência fixo, onde ficava a casa da família, onde situações difíceis eram vivenciadas. O casal, em mais de uma ocasião, considerou o divórcio ou o suicídio de ambos.” http://scielo.isciii.es/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0211-57352003000200006
Apesar de ter vivido com outros homens, Lou não os nomeava como amantes e sim os tratava como grandes amigos.
Lou vivia cercada por admiradores e, entretanto, se recusava a ter envolvimentos sexuais com alguns dos quais conviveu. Talvez esse fato possa ajudar a compreender como permaneceu casada com Andreas por tanto tempo.
Dr. Friedrich Pineles (Zemek)
Entre outubro de 1895 e meados de 1896, Lou se encontrava em Viena. Um dia ao ser convidada por uma ativista austríaca de nome Rosa Mayreder foi o momento onde Lou conheceu Broncia, que estava acompanhado de seu irmão Friedrich Pineles, cujo apelido era Zemek.
Dr. Friedrich viveu entre 1868 e 1936, era médico no Hospital Geral de Viena e era mais novo que Lou, em torno de 7 anos. Entre Natal e Ano Novo, Zemek e Lou se encontraram várias vezes e Lou se encanta com sua aparência, educação e seus interesses filosóficos-literários.
“Com Zemek, ela fez uma excursão de mochila aos lagos no Salzkammergut, a primeira de suas caminhadas juntos, que mais tarde a levaria a Veneza. Ela provavelmente pegou amor nessa ocasião.” http://www.lou-andreas-salome.de/personen/pineles.html
Lou teve um casamento simbólico com Dr. Friedrich, sendo inclusive recebido pela familia do mesmo como sua esposa. Porém, como não se divorciava de seu marido, nunca oficializou essa relação, devido a sua dúvida de que ela pudesse permanecer leal a ele. “Passaram a viver como marido e mulher quando, segundo Peters (1986), Lou engravidou, mas não pretendia se separar de Andreas e perde a criança, situação que Pfeiffer dizia não saber. Ficaram juntos durante doze anos, eram tratados como casal pela família dele e em todos os lugares que frequentaram durante esse período. Até que Zemek se cansou do lugar em que ela o colocava. Queria mais! Porém, ela não o faria e, assim, terminaram“. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-34372017000200018
Lou e seu envolvimento com Rainar Maria Rilke
Mesmo estando envolvida com Zemek, Lou conhece em maior de 1897, Rainar Rilke, aquele que ela diria que teria sido seu maior amor.
Rainar Rilke, um poeta alemão, conhece Salomé quando tinha apenas 22 anos e ela 36. Se conheceram em Munique no ano de 1897. Lou escreveu a Rilke: “Fui sua mulher durante anos, porque você foi a primeira realidade onde homem e corpo são indiscerníveis (…) foi assim que nos tornamos marido e mulher”, citado por Menezes e Darcoso, na referencia de PETERS, 1986, p. 170.
Lou ao observar a dependência de Rilke em relação a ela, ansiava novamente por independência e assim sentia que era hora de terminar para recuperar sua liberdade.
Rilke demorou a aceitar o término com Salomé e enviava cartas de desculpas e pedindo por mais reencontros. Mas, Salomé já de volta para sua casa, já partia em busca de outros círculos de amigos.
Rilke em uma de suas correspondências a Salomé assim a definia: “Essa mulher possui a habilidade de penetrar nas coisas mais maravilhosas, mais esplêndidas; ela transforma, no momento certo, tudo aquilo que os livros e as pessoas trazem, na mais abençoada compreensão; ela entende, ama e se move, sem medo, entre os mistérios mais ardentes. Estes não lhe causam nada, apenas brilham para ela com a mais pura chama” (FORRESTER, 2011, P. 371 – Citado em:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-34372017000200018
O intenso romance entre o Lou e o poeta teve a duração de três anos, transformando-se mais tarde em amizade que continuará até a morte de Rilke em 29 de dezembro de 1926.
Salomé viveu no periodo da belle epóque, movimento surgido na França, que se estendeu por toda Europa, nos anos de 1871 a 1914, quando eclodiu a I Guerra Mundial e circulou pela Europa, publicando e aprendendo sobre o novo momento de grandes avanços nesse período. “Salomé participou dos círculos de vanguarda em Berlim, Paris, Munique e por último Viena (MATTOS, 2011). Circulava pela Europa como no quintal da mansão de sua família na Rússia. Eram pessoas questionando o novo tempo, a modernidade, a crise do sujeito e comungavam com Lou, ou Lou comungava com elas, no desejo de liberdade e nos questionamentos do que o progresso estava a fazer com as pessoas. Publicou em grandes revistas da época como colaboradora, fazendo críticas e revisões como partícipe dos grupos de vanguarda.“
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-34372017000200018
Lou e Poul Bjerre (1876-1964)
Poul Bjerre que viveu entre os anos de 1876-1964, era um psiquiatra sueco, que estudou um pouco da psicanálise, porém acreditava mais na consciência do que no inconsciente, se afastando dessa teoria, por entender que Freud dava uma atenção exagerada a sexualidade. Mas, foi com ele que Lou participou de um Encontro de Psicanálise em 1911.
Com Poul Bjere Lou teve um envolvimento amoroso durante dois anos e quando conhece Freud, Lou se interessa mais pelos estudos da psicanálise, deixando assim mais um de seus casos para trás. “Aqui Lou encontrou o espaço de vanguarda sobre o sujeito, o ouvir, o investigar-se fora de padrões e pressões religiosa, políticas e/ou culturais. Tudo isso coincidião com o que pensavam os grupos que Salomé frequentava: a descrença no homem da razão, a recusa da tirania das leis apostando na construção de uma humanidade mais livre.”
Lou Salomé, Freud e a Psicanálise
Lou Salomé conheceu Freud, quando tinha 50 anos. Foi através de amigos interessados na Psicanálise que isso ocorreu no ano de 1911. “O período entre 1911 e 1937 é de Lou e Freud, Lou e a psicanálise. Salomé entrou nos cinquenta anos sentindo-se jovem, com o brilho e a vitalidade dos vinte anos. O contraste entre a sua idade e sua aparência fazia com que muitos brincassem que ela havia descoberto a fonte da juventude ou que seu marido Andreas, por ter vivido no mundo oriental, devia possuir a fórmula mágica da juventude. Para Lou a fonte da juventude era o amor em todas as suas manifestações: o amor à natureza, o amor pelos animais, o amor dos sexos.” http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-34372017000200018
Quando Lou Salomé foi apresentada a Freud, no Congresso de 1911, onde havia 55 participantes, Freud admirou o entusiasmo de Salomé. Em sua conversa com Lou, Freud mostra intrigado pela a insistência dela em ser alegre e otimista.
A partir desse Congresso, Lou solicita a Freud a permissão para que ela pudesse fazer parte da reunião que acontecia as quartas-feiras com os psicanalistas de então. Com a permissão de Freud, Salomé chega em Viena no ano de 1912 e ingressa ao grupo, onde a mesma foi bem recebida pelo grupo.
Durante a reunião, Salomé tinha o costume de ficar em silêncio, simplesmente ouvindo e tricotando. Freud achava que ela não estava entendendo a profundidade de seus conceitos, porém logo em seguida Freud se espantava pela suas articulações e sínteses aprofundadas, chegando a se referir a Lou como a “mais dedicada dos interpretes”, “a poeta da psicanálise” chegando mesmo a dizer que a inteligência de Lou era demoníaca.
Durante seus estudos da psicanálise em Viena, Salomé teve envolvimentos com vários homens, porém um que nesse momento conquistou seu coração foi Victor Tausk , 16 anos mais novo que ela.
Victor Tausk era médico neurologista e psicanalista, amigo de Freud. Antes de estudar medicina era advogado e escritor. Fez parte da Sociedade Psicanalítica de Viena e contribuiu com vários artigos. Foi médico militar, durante a Primeira Guerra Mundial e com base em sua experiência durante a guerra, ele escreveu sobre psicoses induzidas pela guerra. https://en.wikipedia.org/wiki/Victor_Tausk
Lou e Victor, durante os estudos de psicanálise, tinham o costume de fugir para ir ao cinema, onde Lou via um divertimento pelo fato de ser cinema mudo, um momento para relaxar e descansar a cabeça dos trabalhos intelectuais pesados. O que Lou admirava em Victor era sua coragem de “se aventurar nos campos que ainda não eram muito estudados na psicanálise e levaram Freud a lhe pedir cautela, mas era exatamente essa qualidade que atraía Lou. Ela o chamava de animal predador, um homem com força primitiva. Victor suicidou-se aos 47 anos castrando-se primeiro”. (Peters, 1986, citado por Dacorso, S. T. M., 2017. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-34372017000200018
Segundo Dacorso, S. T. M., 2017. “Lou se dedicou à psicanálise com a mesma intensidade e paixão com que se dedicou a tudo o mais em sua vida. Atendia uma média de dez pacientes por dia e todo tipo de perturbação psíquica! Após uma gripe forte que a fez perder cabelo, sente-se envelhecida, doente, e Freud a convida a estar com ele em Viena. Ela aceita e nessa viagem torna-se amiga de Ana e confidente do velho Freud. Depois que retorna a sua cidade Freud lhe escreve, em novembro de 1912: “[…] gosto de fixar meu olhar em alguém [quando falo], ontem fixei meu olhar, como se estivesse enfeitiçado no lugar que lhe era reservado (PFEIFFER, 1966).”
Após a Primeira Guerra, Lou se dedicou durante 06 meses aos cuidados das vítimas de traumas nervosos em um campo de batalha. Lou, muito próxima de Freud e sua família, supervisionou o tratamento de Anna Freud com Sigmund Freud.
Em 1931, quando Freud completou 75 anos, Lou lhe dedicou um livro onde colocava a sua gratidão e discordâncias com aquele que a recebeu como uma de suas melhores amigas e confidentes. “Freud lhe respondeu que ela colocava uma ordem feminina na desordem ambígua de seu próprio pensamento”. (ROUDINESCO, 2016, p. 354).
De acordo com “Anaïs Nin (1903-1977), uma autora de livros e artigos sobre eroticidade feminina, foi convidada a fazer o prefácio do livro de Peters (1962), onde analisa que Salomé simboliza o transcender convenções, modos de viver e pensar. Lou viveu todas as fases das relações amorosas; casou-se e levou vida de solteira relacionando-se com homens tanto mais velhos como mais novos. Tinha o talento da amizade e do amor, mas não se deixou consumir por paixões românticas. Pelas atitudes, pensamentos e obras sempre esteve à frente de seu tempo. Anaïs cita Barbara Kraft, que fez um estudo sobre ela escrevendo: “Salomé foi a primeira mulher moderna”. Ainda com Anaïs, Lou copiou dos homens o modo de vida, mas não foi uma mulher masculina. Exigiu a liberdade de mudar, evoluir e crescer. Afirmou sua integridade contra o sentimentalismo e as definições hipócritas da fidelidade e do dever.” http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-34372017000200018
Como morreu Salomé?
Salomé deixa de trabalhar aos 74 anos e com problemas cardíacos, sempre havia necessidade de recorrer aos hospitais. Lou Andreas-Salomé, morre aos 76 anos, na cidade de Gottingen, no dia 05 de fevereiro de 1937.
Passado alguns dias de sua morte, todos os seus livros foram recolhidos pela Gestapo, pelo fato de ser psicanalista o que para a Gestapo era considerada uma ciência judaica e, como Salomé foi amiga intima de Sigmund Freud e sua colaboradora e, ainda por saber, que em sua biblioteca constava muitas obras de autores judaicos.
Algumas citações de Lou Salomé:
“Ouse, ouse… ouse tudo! Não tenha necessidade de nada! Não tente adequar sua vida a modelos, nem queira você mesmo ser um modelo para ninguém. Acredite: a vida lhe dará poucos presentes. Se você quer uma vida, aprenda … a roubá-la! Ouse, ouse tudo! Seja na vida o que você é, aconteça o que acontecer. Não defenda nenhum princípio, mas algo de bem mais maravilhoso: algo que está em nós e que queima como o fogo da vida!” Lou Salomé
“Sempre não tive a idéia fixa de que a velhice me traria muito? Em meus jovens anos escrevi em algum lugar: primeiro nós vivemos nossa juventude, em seguida nossa juventude vive em nós. Não sei bem, ainda hoje, o que eu queria dizer com isso outrora. Mas eu tinha realmente medo de não atingir a idade de viver esta experiência; eu o sabia profundamente, uma longa vida, com todas as suas dores, vale ser vivida,. Claro, o valor da vida pode nos ficar escondido pelos desgastes sofridos pela nossa carne, nosso espírito (…) do mesmo modo que a juventude mais empreendedora pode se ver entravada em sua felicidade e em seu sucesso, por um fatal concurso de circunstâncias; mas, por além das perdas, a velhice adquire muito mais que a famosa aptidão à serenidade e à lucidez: ela permite que se chegue a uma plenitude mais acabada.”Lou Salomé
“Pois, nos seio mesmo da paixão, nunca se deve tratar de “conhecer perfeitamente o outro”: por mais que progridam neste conhecimento, a paixão restabelece constantemente entre os dois este contato fecundo que não pode se comparar a nenhuma relação de simpatia e os coloca de novo em sua relação original: a violência do espanto que cada um deles produz sobre o outro e que põe limites a toda tentativa de apreender objetivamente este parceiro. É terrível de dizer, mas , no fundo, o amante não está querendo saber “quem é” em realidade seu parceiro. Estouvado em seu egoísmo, ele se contenta de saber que o outro lhe faz um bem incompreensível… os amantes permanecem um para o outro, em última análise, um mistério” Lou Salomé
“Nem tudo precisa ser revelado.
Todo mundo deve cultivar um jardim secreto”. Lou Salomé
“A vida humana- Ah!
A vida sobretudo – é poesia.
Inconscientes, nós a vivemos, dia a dia
passo a passo- mas em sua intengível
plenitude ela vive e se nos traduz em poesia”.Lou Salomé
Sobre a série Freud da Netflix
Após assistir a primeira temporada da série da Netflix sobre Freud, onde aparece uma médium, vivida por Ella Rumpf, que se mostra companheira de Freud para desvendar os mistérios da série, se envolvendo inclusive com ele, não existiu na realidade. Pode até ser que o nome Salomé tenha sido uma inspiração ao nome de Lou Andreas-Salomé.
Lou Andreas-Salomé, foi realmente uma grande amiga de Freud, porém os dois não tiveram um romance na vida real e Salomé só conheceu Freud, como citado no texto, no ano de 1911 quando já estava com 50 anos de idade e na série que a Netflix apresenta, a ficção ocorre 25 anos antes.
Sendo assim, a série é uma referência a Freud, porém não condiz com todos os fatos reais históricos.
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Era isso por hoje.
Obrigada pela sua visita. Você é sempre bem vindo(a) por aqui.
Um abraço.
Referências:
https://www.pensador.com/autor/lou_salome/
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-34372017000200018
https://en.wikipedia.org/wiki/Malwida_von_Meysenbug
http://osuicidario.blogspot.com/2012/05/candelabro-aceso-para-paul-ree-1849.html
https://en.wikipedia.org/wiki/Friedrich_Carl_Andreas
http://www.lou-andreas-salome.de/personen/pineles.html