O objetivo do post de hoje é dividir aqui com você um pouco sobre a vida de Anna Freud, a filha caçula, companheira de profissão e cuidadora de Sigmund Freud. Saiba um pouco sobre ela por aqui…
Quando visitei o museu do Freud em Londres, na parte de cima do sobrado, onde a família residiu, estava um espaço dedicado a Anna Freud, a filha caçula de Freud e lá pensei em fazer um post sobre ela.
A sala dedicada a Anna Freud se encontra seus pertences e lá também está o seu divã e um tear que ficava em seu dormitório. Anna Freud gostava de tecer e tricotar.
Já publiquei por aqui, um post sobre Freud e seus filhos e, hoje, vamos falar um pouco mais sobre quem foi Anna Freud, que foi analisada pelo próprio pai e é considerada uma das pioneiras a trabalhar a psicanálise com crianças.
Anna Freud nasceu em 03 de dezembro de 1895, em Viena, na Austria. Foi a caçula dos 6 filhos de Freud. Vale lembrar que, naquela época, não existia métodos anticonceptivos e nem sempre toda gravidez era assim tão desejada, o que fazia com que os filhos buscassem o reconhecimento dos pais. “Anna não havia sido desejada nem pela mãe nem pelo pai, e passara a juventude lutando para existir, depois rivalizando com sua tia Minna para ter acesso ao conhecimento da obra paterna. Em janeiro de 1913, deixara explodir seu ciúme da irmã: “Parei de bordar a colcha de Sophie, e é sempre um pouco desagradável para mim, quando penso que teria gostado de terminá-la. Penso, naturalmente, com muita frequência no casamento de Sophie. Mas Max, na realidade, é completamente indiferente para mim”. ROUDINESCO, E. 2016, p. 281.
Freud, acreditava que o ciúmes de Sophie era devido na realidade um ciúmes de seu marido Max. Nessa época, ainda não suspeitava que o ciúmes era de Sophie e não de Max. “Anna sentia atração pelas mulheres”. ROUDINESCO, E. , 2016, p. 282
Quando pequena Anna não gostava da escola, por entender que o que aprendia na escola pouco lhe serviria. Anna afirmava que o que aprendera durante a sua infância e adolescência se devia aos ensinamentos em casa e com as visitas que seu pai recebia.
Na sua juventude, desenvolveu um quadro de anorexia e passou por treinamento em uma escola Montessori, em Viena, vencendo uma competição para se tornar professora no ano de 1914. Foi a única filha de Freud a exercer uma profissão.
Freud procurava despachar todos os seus discípulos vienenses que tentavam se aproximar de Anna, como Jones, August Aichhorn, Siegfried Bernfeld, Hans Lampl. “Preocupado com a possibilidade de Anna ficar solteira, Freud percebeu que os interditos e o recalcamento faziam com que a filha repelisse os homens sem deixar de desejar ser mãe. E foi para “despertar sua libido”que lhe propôs em outubro de 1918, uma análise com ele próprio”. p. 282
Anna Freud se interessou pela aprendizagem de várias línguas como o hebraico, inglês, francês, alemão e italiano. Ao se formar com 17 anos e por não saber qual carreira seguir, foi à italia e após três anos iniciou seu trabalho como professora primária, na mesma escola que havia estudado, no “Cottage Lyceum”.
Em 1917, ela contraiu tuberculose, o que resultou em uma vulnerabilidade para contrair enfermidades que acabou fazendo com que deixasse a carreira de professora.
A análise de Anna, tendo o próprio pai Freud como seu analista, se deu em dois momentos, sendo o primeiro durante o período de 1918 a 1920 e o outro de 1922 a 1924.
Além de ser a companheira de Freud, foi ela quem se dedicou ao pai nos cuidados de sua saúde até os últimos anos de sua vida.
Anna Freud, cresceu junto a família na rua Berggasse, 19, em Vienna, onde permaneceu até o ano de 1938, quando foi para Londres, na Inglaterra, devido a ocupação nazista.
Em 1923, Anna Freud decide renunciar ao casamento, recebendo de seu pai o apelido de “Antígona” e, ainda, ganha de presente do pai um pastor alemão que recebeu o nome de Wolf e que faria parte da família, que recebia os animais como membro da família.
Após o término da segunda fase de sua análise com o pai, Anna conheceu Dorothy Tiffany Burlingham que, a partir de então, a acompanharia pela vida toda. Doroty, uma americana, nascida em New York era neta do fundador das Lojas Tiffany & Co. Era casada e tinha quatro filhos. Pelo fato de seu marido ser psicótico e visando fugir dos seus acessos de loucura, Doroty vai a Vienna para se tratar de sua fobia e entregar os tratamentos de seus quatro filhos a família Freud.
Anna e Doroty se sentiam como irmãs gêmeas e, embora alguns acreditassem que eram lésbicas, Anna Freud negou a vida inteira esse tipo de relacionamento.
Após concluir sua análise com o Pai, Anna Freud conhece uma nova amiga Eva Rosenfield, judia, berlinense que mais tarde, junto com ela e Doroty fundariam uma escola particular onde receberiam crianças em terapia.
Anna e Dorothy, com seus quatro filhos, passaram a conviver a partir de então se dedicando aos cuidados das crianças. “Assim, Anna realizou seu desejo de ser mãe ao tornar-se, por intermédio da psicanálise, a “segunda mãe”e a terapeuta dos filhos de Dorothy, além de mãe adotiva e analista de seu sobrinho Ernstl.” ROUDINESCO, E., 2016, p.
Anna Freud e seu percurso na psicanálise infantil
Anna Freud era quem traduzia os artigos de seu pai e assim tinha acesso total aos trabalhos de Freud. Foi assim que foi se aproximando da psicanálise.
Na década de 1920, os psicanalistas estavam dando os primeiros passos na observação do comportamento infantil. Nesse mesmo ano, em dezembro de 1920, a gripe espanhola chegou a casa da família Freud, levando sua filha mais velha Sophie à morte. Anna abandona então a sua carreira no magistério para se dedicar dali para frente a sua formação analítica.
Após o termino da sua primeira fase de análise (1918-1922) Anna se aprese ta como voluntária em um Lar de Crianças “Baumgarten Home que cuidava de órfãos judeus ou criança carentes sem lar, em decorrência da 1a Guerra Mundial. Foi nesse lar que Anna passou a se reunir com colegas e vários dirigentes de entidades para intercambiar informações sobre as experiências com tais crianças, em sua maioria, vitimadas por acontecimentos traumáticos”.
Com a descoberta do câncer em seu pai e por saber do longo tratamento e diversas cirurgias pela qual Freud passaria, Anna toma a decisão de permanecer junto a ele, deixando o seu projeto de mudança para Berlim e, a partir de então, passa a se dedicar até o final da sua vida vida a causa infantil.
“Anna publicou sua primeira tese: Lutando contra fantasias e sonhos diários, e seus colegas começam a levá-la a sério. No ano seguinte, assume oficialmente as responsabilidades de secretária e representante do pai, além de secretariar o recém-criado Instituto de Formação Psicanalítica de Viena. Começou, também, a clinicar em psicoterapia, numa época em que as teorias de Freud ainda provocavam uma forte oposição entre médicos e psicólogos mais acadêmicos e conservadores.”
Em 1925, junto com Dorothy Burlingham Anna inaugura a primeira creche para crianças com problemas emocionais e juntas fundaram a Jackson Nursery, em Viena e, mais tarde em Londres, a Hampstead War Nursery.
Com os seus atendimentos com um número crescente de crianças, Anna percebeu que sua técnica era diferente daquela que o pai realizava com os adultos, chegando até mesmo a ir contra a análise paterna do “Pequeno Hans”.
A primeira análise realizada por Anna Freud foi a do seu sobrinho W. Ernest Freud, a mesma criança observada por Freud no “jogo do carretel”.
Com o apoio financeiro da psicanalista Edith Jackson, bem como o apoio de Dorothy Burlingham, fundam a Instituição Jackson Nursery, em Viena, onde observava os primeiros estágios de desenvolvimento infantil e atendia dentro dos métodos psicanalíticos com crianças carentes menores de 2 anos de idade.
No ano de 1927, Anna Freud publica Introdução à Técnica da Análise da Criança e, nesse momento, inicia uma oposição a Melanie Klein, da Escola Inglesa, acreditando que a terapia de crianças deve ser mantida dentro de uma dinâmica pedagógica. “Seu trabalho mais notável foi O Ego e os Mecanismos de Defesa, publicado em 1936. Foi nessa obra que sua visão da psicanálise infantil começa a caminhar para a adolescência. Esse livro tinha três propósitos. Primeiro, analisar e rever, de forma geral, as descobertas técnicas e teóricas que ensinavam os psicanalistas a dar igual consideração clínica ao id, ao ego e ao superego. Em segundo lugar, rever os mecanismos que seu pai isolara e descrevera, elaborando-os e os resumindo. Por último, incorporar os mecanismos de defesa à experiência que acumulara, até então. Ela consegue terminar o livro a tempo de apresentá-lo ao pai, em seu 80º aniversário.”
Em 1938, Sigmund Freud e sua família foram obrigados a deixar Vienna, devido a ocupação nazista, ocorrida no dia 12 de março de 1938. Nem toda família de Freud teve as mesmas condições de sair da Áustria, como o caso de suas 4 irmãs que morreram, mais tarde, nos campos de concentração. A familia de Freud, com ajuda de Ernest Jones e Marie Bonaparte, foram exilados em Londres, passando antes por Paris. Assim, Freud deixa Viena no dia 04 de junho.
Anna Freud em Londres
Em Londres, Anna Freud funda uma instituição infantil, o Hampstead War Nursery, juntamente com Dorothy Burlingham e ali se dedicam a atender as crianças, em um grande número, órfãs da guerra.
“Após o término da guerra, os viveiros foram renomeados para Curso e Clínica de Treinamento em Terapia Infantil de Hampstead. Após a morte de Anna Freud, eles foram renomeados novamente e agora são conhecidos como Centro Anna Freud.” https://pages.uoregon.edu/adoption/people/AnnaFreud.htm
“Freud e Burlingham resumiram seu trabalho de guerra em Infants Without Families . Eles descreveram crianças pequenas que chupavam os polegares obsessivamente, balançavam mecanicamente, batiam a cabeça contra o chão e os berços e exibiam todo tipo de comportamento estranho e alarmante, a fim de chamar a atenção para si. De acordo com Freud e Burlingham, o que eles viram provou que o contato emocional era um impulso natural poderoso e também que as “famílias artificiais” que as crianças institucionalizadas formadas nunca poderiam satisfazer esse impulso. O livro chegou a duas conclusões cada vez mais evidentes na literatura geral sobre desenvolvimento, bem como no campo específico da ciência da adoção . Primeiro, as instituições residenciais eram ruins porque produziam desenvolvimento anormal nas crianças. Segundo, o apego – especialmente à mãe – era a fonte do desenvolvimento emocional saudável. Incapacidade de anexar problemas ao longo da vida.”
Anna Freud começa em Londres a ter divergências com a psicanalista Melanie Klein, onde para Anna Freud a psicanalista junto a criança estabelece uma transferência positiva, garantindo um papel pedagógico e educacional à criança analisada, enquanto Melanie Klein defende que a brincadeira com a criança, no atendimento, corresponde às associações livres da cura para os adultos.
“Freud e Burlingham resumiram seu trabalho de guerra em Infants Without Families . Eles descreveram crianças pequenas que chupavam os polegares obsessivamente, balançavam mecanicamente, batiam a cabeça contra o chão e os berços e exibiam todo tipo de comportamento estranho e alarmante, a fim de chamar a atenção para si. De acordo com Freud e Burlingham, o que eles viram provou que o contato emocional era um impulso natural poderoso e também que as “famílias artificiais” que as crianças institucionalizadas formadas nunca poderiam satisfazer esse impulso. O livro chegou a duas conclusões cada vez mais evidentes na literatura geral sobre desenvolvimento, bem como no campo específico da ciência da adoção. Primeiro, as instituições residenciais eram ruins porque produziam desenvolvimento anormal nas crianças. Segundo, o apego – especialmente à mãe – era a fonte do desenvolvimento emocional saudável. Incapacidade de anexar problemas ao longo da vida.”
Em 1947, Anna Freud funda a Clínica de Terapia Infantil Hampshead, em Londres que passaria a ser um importante centro de pesquisa e de treinamento para psicanalistas interessados em atender crianças.
Anna Freud e Doroty Burlingham, escrevem três livros embasadas em seus trabalhos em berçarios: “Jovens em tempo de guerra” (1942); “Crianças sem família (1943) e “Guerra e Crianças” (1943). “Foi pioneira no diagnóstico do desenvolvimento da criança sob estresse, que acarreta distúrbios mentais. Anna visava adaptar a criança à realidade, mas não necessariamente como uma revelação do conflito inconsciente. Trabalhava junto aos pais e acreditava que a terapia devia ter uma influência educacional positiva na criança.” http://www.morasha.com.br/biografias/anna-freud-pioneira-na-psicanalise-infantil.html
Nas décadas de 50 e 60, Anna Freud viajou diversas vezes aos Estados Unidos, onde ministrava aulas sobre crianças e psicanálise. Escreveu e publicou vários textos sobre seu trabalho com crianças.
Como pioneira da psicanálise de crianças, contribuiu com a possibilidade de tratamentos na saúde mental infantil, preparando novos psicanalistas com interesse na área.
“Jacques Lacan, ao considerar que o sintoma da criança corresponde ao sintoma familiar, principalmente ao fantasma materno, contribuiu para a nova prática de análise da criança que se desenvolveu na França com Françoise Dolto, Maud Mannoni, Jenny Aubry, Rosine Lefort e Robert Lefort. Estes últimos criticavam a prática de redução da psicanálise com crianças a uma técnica de jogos e desenhos, defendendo que a criança não deve ser abordada apenas a partir do imaginário. Sustentavam que a criança é um sujeito por inteiro, não havendo diferença entre uma cura de adulto e a análise com uma criança.“ http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-73952010000300007
Anna Freud, através de seu trabalho com a observação das crianças, foi, sem dúvida, uma pioneira no tratamento com crianças, deixando a produção de seu trabalho como referência aos futuros psicanalistas infantis. “Anna Freud teve um papel revolucionário na psicologia infantil, tanto quanto seu pai o teve na de adultos. Foi condecorada com um certificado de honra pela Universidade Hebraica de Jerusalém, no “Bedford College”, em 14 de julho de 1976.”http://www.morasha.com.br/biografias/anna-freud-pioneira-na-psicanalise-infantil.html
Algumas citações de Anna Freud
“Mentes criativas sempre sabem sobreviver a qualquer tipo de mau treinamento”;
“Se algo não te satisfaz, não se espante. Chamamos isso de vida”;
“Quando os sentimentos dos pais são ineficazes ou muito ambivalentes ou quando as emoções da mãe estão temporariamente comprometidas em outro lugar, as crianças se sentem perdidas”;
“Que maravilhoso é que ninguém precise esperar nem um só momento antes de começar a melhorar o mundo”;
“Eu estava procurando fora de mim por força e confiança, mas elas vêm de dentro. E estão lá o tempo todo”;
Anna Freud se dedicou as crianças durante todo o seu percurso profissional e morreu em Londres, em 09 de outubro de 1982, com 86 anos.
Tive a oportunidade de visitar o Museu de Freud em Londres e, através do vídeo abaixo, você poderá conhecer o quarto de Anna Freud, onde eles moravam e alguns pertences da mesma.
Achei interessante esse video que encontrei no youtube, onde Anna Freud narra sobre alguns videos de sua família e trouxe aqui para que você conhecer um pouco mais sobre alguns momentos de Freud vividos em família.
Enfim, espero ter trazido e dividido aqui com você um pouco sobre a vida de Anna Freud, a filha caçula de Freud que, assim como seu pai, desenvolveu um rico e importante trabalho para o tratamento da saúde mental infantil.
Referências:
ROUDINESCO, E. – Sigmund Freud – na sua época e em nosso tempo- Ed. Zahar, Rio de Janeiro, 2016.
https://fr.wikipedia.org/wiki/Anna_Freud#Enfance_et_formation
http://www.morasha.com.br/biografias/anna-freud-pioneira-na-psicanalise-infantil.html