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A relação dos pais e avós na contemporaneidade

A relação dos pais e avós na contemporaneidade

Tempo de leitura 6 min.

Oi Gente

O post de hoje se refere a uma reflexão sobre a relação dos pais e avós na contemporaneidade e os desafios diários no desenvolvimento da criança. 

Estamos diante de uma nova geração de avós que já passaram dos cinquenta e, embora alguns ainda estejam em plena atividade profissional, estão recebendo a chegada dos netos e precisam colaborar com a nova geração no exercício da função materna e paterna. A quem caberá realmente a educação para o desenvolvimento da criança? Como os avós modernos estão lidando com isso? 

Cada vez mais observa-se a nova função participativa, na atualidade, dos avós modernos. É claro que faz parte do papel dos avós auxiliar na continuidade da família colaborando com os filhos no exercício da função materna e paterna, pois além de permitir desde cedo o convívio familiar, é também uma oportunidade de transmitir conhecimento e auxiliar os novos pais no desenvolvimento do bebê.

Mas, é interessante que essa colaboração, em alguns casos, acabam virando obrigação. O que está acontecendo com essa nova geração de papais e mamães que não estão conseguindo administrar tantas demandas na contemporaneidade? Precisam estudar, trabalhar e cuidar de sua carreira profissional e com a chegada do bebê, como fica a divisão das tarefas?

Me lembro, algum tempo atrás, quando ainda não era avó, de encontrar uma amiga exausta e, quando perguntei a respeito, ela me disse: Sou avó de três lindas crianças e diga-se de passagem avó de tempo integral. 

Segundo seu relato, o primeiro filho se casou, os dois trabalhando tempo integral, precisando do salário dos dois para compor a renda familiar, a única opção era colocar o bebê em alguma instituição que cuidasse da criança. Diante de tantas más informações sobre a má qualidade de atendimento as necessidades do bebê, lá foi a avó cheio de amor, se oferecer para cuidar do primeiro neto. Até aí tudo bem, um netinho lindo chegando na família e alegrando todos os adultos.

Passando uns dois anos, chega outro neto e sem mesmo consultar o desejo dos avós, lá estava o segundo neto sendo levado a casa dos avós para também ser cuidado pelos mesmos. 

Outro filho se casa, passa mais algum tempo e chega o terceiro neto, e mais uma vez, sem questionar se era do desejo ou não dos avós ficar com mais um netinho, chegava na casa o terceiro neto. 

E aí? Como esses avós recebem os netos com tanto carinho e ao mesmo tempo com tantas demandas, obrigações e responsabilidade em cuidar integralmente de 3 netos? E, ainda, como lidar com essa situação? Vale a pena pensar sobre esse tipo de questão que está cada vez mais acontecendo em grande parte das famílias brasileiras.

O papel dos avós na contemporaneidade já é de interesse de pesquisadores 

Já não se fazem vovôs e vovós como antigamente.  A longevidade vem contribuindo com uma nova geração de avós que, em alguns casos, mesmo aposentados ainda continuam em plena atividade e, quando não trabalham, querem aproveitar um pouco dessa fase da vida para viver novas experiências que não puderam em outros momentos. 

Não há mais regras para a formação de novas famílias, como na sociedade patriarcal, onde o homem era o provedor e caberia a mulher o cuidado dos filhos e da casa. Os papeis eram bem definidos e divididos e, vale lembrar, que  não adianta querer ficar vivendo de passado, é necessário que vivamos a realidade do presente, as novas formas de família que se apresentam na atualidade, pois é com essa realidade que devemos conviver, respeitar e administrar o que é preciso ser feito.

Resolvi realizar uma pesquisa sobre esse assunto e encontrei um trabalho interessante, onde as pesquisadoras realizaram um encontro com um grupo de avós que dividiam, de formas diferentes com os pais,  a função paterna e materna no desenvolvimento do bebê.

De acordo com alguns relatos, há várias formas de ser avós na contemporaneidade, onde, em alguns casos, o papel dos avós dentro da nova família deixa de ser algo apenas de escolha, mas sim  de uma obrigatoriedade.

Segundo Cardoso e Brito, os ” As atribuições dos avós para com os netos nas sociedades ocidentais contemporâneas, como mostra a literatura sobre o tema (Coutrim, Boroto, Maia & Vieira, 2006; Dias & Silva, 1999; Lins de Barros, 1987; Lopes, Neri e Park, 2006; Segalen, 1996), passaram a ser bastante diversificadas, trazendo exigências e consequências distintas tanto para os primeiros como para as crianças. Percebe-se, por exemplo, que no século XXI, há aqueles que são cuidadores integrais dos netos, os que se responsabilizam por apenas um período do dia, os que veem os netos nos finais de semana e aqueles que os encontram eventualmente. ” É interessante fazer uma leitura desse trabalho por aqui: http://www.scielo.br/pdf/pusf/v19n3/07.pdf

Quando se fala em avós, nos vem na lembrança aquelas pessoas idosas, com cabelos brancos e disponíveis para atender, receber e participar, de forma mais leve, da vida dos netos. Mas, na contemporaneidade, nem sempre é essa a imagem dos avós.

Se você pensar no número de adolescentes que são mães tão jovens e, dividem a maternidade dos filhos com a avó, fazendo com que a criança não saiba mesmo definir quem é a sua mãe de verdade, não tem como não imaginar os conflitos que possam aparecer na constituição do sujeito.

Diferentes gerações, diferentes formas de entender a maternidade e diferentes formas de educar, como fica a criança nesse contexto?

Avós deveriam ser apenas colaboradores, mas nem sempre isso é possível

É comum observar as novas mamães cansadas de tantos “pitacos” daqueles que já criaram seus filhos ou que se julgam mais experientes no cuidado de uma criança. Vale lembrar que, em alguns casos, ainda é possível estar presente a figura dos bisavós no convívio com a criança. Mas, até que ponto, a necessidade do jovem casal em precisar da colaboração dos avós, não os permite se livrar de tantas opiniões? 

É importante lembrar que cabe aos pais a educação de seus filhos, assumindo a responsabilidade pelo desenvolvimento do bebê e, com erros ou acertos, o exercício da paternidade e maternidade é uma aprendizagem constante e nada melhor que os pais para saberem o que é melhor para os seus filhos, até que os mesmos possam decidir e escolher por conta própria. 

Mas, na contemporaneidade, nem sempre a teoria é possível  ser seguida, pois a realidade e as demandas atuais sobre os jovens pais, não lhe permitem administrar sozinhos a formação da nova família.

A participação dos avós, na atualidade, cada vez mais vem sendo necessária para a formação de uma nova geração e nesse contexto, nem sempre a separação de papeis é bem resolvida. É preciso muito diálogo para que as regras sejam bem colocadas, para que a criança saiba diferenciar a diferença entre os avós e os papais e a quem deve seguir as orientações.

É difícil dizer o que está certo ou errado, até porque não existe uma receita pronta ou uma manual a ser seguido, quando se trata do desenvolvimento de um ser humano.

Atualmente, observa-se cada vez mais a importância e a necessidade da participação dos avós na formação das novas famílias. Participação essa que, em alguns casos, não apenas de colaborados mas, inclusive, de provedores, ajudando os filhos nas despesas com os netos.

Quando os avós se dispõem a colaborar com amor, carinho e desejo na ajuda com os netos, respeitando a escolha e forma de educar dos pais, é possível que haja menos conflitos e uma convivência harmoniosa entre as gerações, facilitando assim o bom convívio e harmonia nas famílias, onde os netos são os mais beneficiados.

Entretanto, quando os avós, principalmente se são ainda jovens, e se veem diante da incumbência de cuidar dos netos, não por escolha, mas por obrigação, nem sempre, essas relações são tranquilas e bem sucedidas, principalmente se os avós assumem, de modo integral, os cuidados com os netos.

Para a criança, em desenvolvimento, é preciso saber a quem de fato ela pertence. Cabe aos pais em um primeiro momento essa decisão e, quando não há condições para que isso se realize, é interessante que os cuidadores da criança possam realmente assumir a educação do pequeno em formação. Não é interessante deixar a criança sem saber ao certo quem realmente está realizando a função paterna e materna para sua constituição.

Diante de algumas situações, onde os avós assumem o cuidado integral dos netos, caberá alguns questionamentos para a saúde psíquica da criança em desenvolvimento: A quem de fato caberá a educação do pequeno bebê? Seguirá os ensinamentos dos avós que pertencem a outra geração?  A divisão dos papeis, de dia com os avós e a noite com os pais, como acontece em alguns casos, quem direcionará a forma da educação da criança? Deve-se lembrar que a mistura de papéis na formação do bebê poderá sim, mais tarde, gerar alguns problemas de ordem emocional.

Não é novidade nenhuma saber que para o bom desenvolvimento do ser humano, a questão da afetividade é de suma importância. O bebê precisa de muito amor e carinho para se desenvolver, mas, vale lembrar que um bebê precisa receber carinho mas também ele precisa saber a quem deve, de fato, deve retribuir esse afeto. Quem de fato é seu papai e sua mamãe?

É preciso que os pais e avós definam, em comum acordo, a forma de orientação a ser dada na educação da criança. Afinal, aí está presente um novo ser humano em formação e para que ele se desenvolva, não basta apenas o seu desenvolvimento físico e sim é preciso pensar em sua formação psíquica que está diretamente relacionada aos seus primeiros anos de vida. 

Aos avós de final de semana, e de pouco convívio com os netos caberá sim algumas permissões atendendo os desejos das crianças e, talvez, até quebrar algumas regras dos papais, afinal que delícia ter uma avô e avó para nos permitir até mesmo criticar os papais.  Mas, se a participação dos avós é de tempo integral e são substitutos dos papais enquanto os mesmos trabalham, essa relação entre pais e avós devem, no mínimo, tentar falar a mesma linguagem.

Era isso por hoje.

Obrigada pela sua visita. Você é sempre bem vindo(a) por aqui.

Um abraço.

 

 

 

 

 

 

Referências:

https://www.acidadeon.com/ribeiraopreto/politica/NOT,0,0,1333708,familia+e+instituicao+cada+vez+mais+plural+e+com+novos+arranjos.aspx

http://www.scielo.br/pdf/pusf/v19n3/07.pdf

 

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