Oi Gente
Hoje quero dividir aqui com você uma dica de filme, voltado principalmente para quem tem filhos adolescentes e alguns recortes a respeito de temas que diz respeito a uma grande maioria dos adolescentes, embasados na análise do filme pelo casal de psicanalistas Diana e Mário Corso, Membros da APPOA, colunista da Zero Hora e da Revista Vida Simples e escritores, ganhadores de vários prêmios.
O livro As vantagens de ser invisível, tem como título em inglês no original The Perkers of Being a Wallflower. É com esse nome que encontrei no Netflix.
O livro foi lançado em 1999 pelo autor StephenChbosky, um americano de 29 anos. “É um romance epistolar, construído a partir de cartas enviadas por Charlie, um garoto de dezesseis anos, a um destinatário anônimo, que acaba por ser o próprio leitor”. p. 57
O filme foi lançado em 2012, dirigido pelo próprio autor do livro, apresenta como atores principais os jovens: Logan Lerman (como Charlie), Emma Watson (como Sam) e Ezra Miller (no papel de Patrick).
Nesse filme você poderá perceber alguns temas abordados que fazem parte do mundo de alguns adolescentes: Puberdade, Comunicação Virtual, O valor da amizade, Dificuldades de Socialização, Abuso, Crises de Pânico, Angústia, Internação de Adolescentes e a Cultura como suporte.
No início do filme, Charlie um menino que havia passado as férias somente em contato com familiares estava temeroso pelo fato de iniciar o ensino médio, ele pensava no número de dias que teria que passar por essa etapa de sua vida.
Charlie escreve cartas sobre questões que permeiam essa fase turbulenta da adolescência, praticamente sempre recluso em seu quarto.
Abuso e o que pode deixar como trauma mal elaborado
Charles passou por situações de abuso na sua infância, pela tia amada que era mais próximo dele. “(…) em sua família havia um segredo, que só lhe foi revelado no fim da infância: a irmã da mãe, tia Helen, sua pessoa preferida no mundo, havia sido abusada quando pequena por um amigo do pai delas, sem nunca ter recebido crédito e apoio da família quando o denunciou. A tia se tornou uma pessoa desequilibrada, que passava por internações, intoxicações e relacionamentos abusivos. Após uma sucessão de fracassos e falências afetivas, incapaz de cuidar de si, Helen foi morar com a irmã (mãe de Charlie) e sua família, sendo o pequeno Charlie seu sobrinho predileto (…) quando ele consegue se lembrar do trauma original, que sua tia Helen costumava acariciá-lo com claras intenções eróticas nos sábados à noite, enquanto assistiam à televisão a sós”. p. 58
Outro momento de Charlie que pode ser considerado como abuso, foi “quando era pequeno, teve algumas vivências que explicam sua preocupação com aqueles que se aproveitam das oportunidades para algum tipo de abuso sexual. Por ordem de lembrança, a primeira ocasião em que registrou isso foi durante uma festa que o irmão adolescente promoveu na casa deles, aproveitando a ausência dos pais. O caçula havia sido confinado no quarto que funcionava como rouparia da festa, para não atrapalhar a invasão adolescente na casa. Ali acabou presenciando um rapaz forçar a namorada a manter uma relação sexual, em uma cena nada romântica.”p. 59
“A liberdade sexual contemporânea, assim como a exigência social de que os adolescentes iniciem e sejam bem-sucedidos em sua vida erótica, atiça neles e em suas famílias novos temores: das condutas abusivas a que se submetem ou às quais se obrigam quando seus limites não são respeitados. São muitos os que lamentam ter-se inaugurado de forma afoita ou invasiva nas experiências sexuais, pois isso impossibilitou que fossem íntimas e prazerosas. Portanto, os amores e desejos que forem surgindo devem tentar obedecer ao ritmo que melhor convém ao dono daquele corpo, que é novo até para ele.”p. 58
Quando há casos em que adolescentes precisam internação
Charlie ainda passou por duas internações até completar seus 16 anos, devido a dois surtos que teve.
Uma das vezes, foi logo após a morte da tia, no dia do seu aniversário de 7 anos. “Cresceu como uma criança considerada sensível, de constituição psíquica delicada, que se culpava pela morte dela, já que o acidente ocorrera quando Helen saíra para buscar o presente dele”. p.59
Você poderá observar no filme que, várias vezes, a cena desse dia do acidente retorna nos pensamentos de Charlie.
Internações que foram necessárias como forma de proteger o paciente, em caso de risco de morte, quando a violência, em alguns casos, foge do controle. Nesses momentos, geralmente o sujeito está em alguma crise profunda de identidade. “É preciso que fique claro: a internação não cura ninguém. Ela acolhe na hora da crise, se não houver outro meio; preserva uma vida que esteja ameaçada e pode ser um basta para aqueles que estavam levando o caso com a seriedade devida. Pode ajudar pessoas que negam terminantemente seus problemas, que se recusam a procurar tratamento ou a tomar os medicamentos necessários, por exemplo”. p. 71
A Escola como um local de socialização
A escola, na vida dos adolescentes, se torna um local importantíssimo hoje em dia nessa questão de socialização. Com a vida corrida, onde os vizinhos já não estão mais presentes, as relações familiares já não são como antigamente, seja pela distância dos parentes ou pelas dificuldades da vida cotidiana, a escola acaba sendo, geralmente, o lugar diário onde o adolescente vai buscar companhias para atravessar essa fase da adolescência.
A mudança de escola, também, devido a entrada no curso médio pode apresentar dificuldades de adaptação e aceitação dos novatos pelos veteranos. No filme você observará bem esse fato.
É uma fase onde o adolescente precisa se posicionar na sociedade, sem a eterna proteção dos pais. “Quando as famílias são as únicas companheiras nesse processo, é mais custoso ter calma e paciência para um diapasão de sofrimento que parece sempre dilatado demais. A Tendência dos pais é buscar fazer o filho perceber que está fazendo uma tempestade em um copo d’água. Esse consolo é difícil de aceitar para quem sente que está se afogando. Charlie se queixa disso e promete, como todos nós, que, quando tiver filhos, fará diferente”. p. 65
Ao final do filme, sugere que Charlie superou essa fase difícil da adolescência, com a interação com os amigos e a ajuda de um professor que o incentiva nos estudos e, ainda, podemos pensar que a escrita das cartas foi uma forma que Charlie encontrou para ir elaborando as suas questões, seus traumas, nessa fase turbulenta da adolescência.
Era isso por hoje.
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Um abraço.
Referência:
Corso, Diana Lichtenstein – Adolescência em cartaz: filmes e psicanálise para entendê-la/ Diana Lichtenstein, Mário Corso – Porto Alegre: Artmed, 2018. 336 p.