Um pouco sobre o III Colóquio de Psicanálise, em Curitiba

Um pouco sobre o III Colóquio de Psicanálise, em Curitiba

Tempo de leitura 6 min.

Oi Gente

Cheguei ontem de Curitiba, onde participei do III Colóquio Internacional de Psicanálise, o qual já havia colocado aqui para você sobre o convite do mesmo,Evento imperdível em Curitiba na área da Psicanálise.

É muito legal, em um final de semana, com feriado prolongado, observar o interesse demonstrado pelos participantes e palestrantes, convidados de diferentes estados dos Brasil, profissionais com uma larga experiência e vivência,  em discutir os desafios da clínica na contemporaneidade.

O objetivo do post é apenas trazer aqui para você os temas que foram tratados nesse Colóquio e os profissionais que lá estiveram e da importância desses eventos para a troca de experiências entre os profissionais da área…

O que é um colóquio? 

“O termo latim collŏqui (“conversar”, “conferenciar”) derivou em colloquĭum, que chegou ao nosso idioma como colóquio.” Um Colóquio se refere a conversação entre duas ou mais pessoas. O outro uso para um Colóquio se refere à uma reunião, um encontro de pessoas que se agrupam para debater sobre algum assunto ou tema. Ali os participantes podem trocar opiniões e experiências diante de um auditório que assistem e ouvem os temas debatidos e, também,  poderá participar ou questionar os assuntos ali expostos. 

Do que se tratou o Colóquio

O tema desse Colóquio: A Clínica atual, psicoses e outros nós.

Estiveram reunidos nos dias 02,03,04/ 11/ 2017, renomados psiquiatras e psicanalistas brasileiros, bem como,  o convidado Jean-Jacques Tyszler, “psiquiatra, psicanalista, membro do Bureau da Association Lacanienne Internacionale; Diretor do Centro médico Psico-Pedagógico para Crianças e Adolescentes da Mutuelle de LÉducation Nationale de Paris: Diretor de ensino de psicanálise e psiquiatria clássica no Hospital Psiquiátrico de Ville Evrard; docente da École Pratique des Hautes Études en Psychopathologie e Membro do comitê de redação do Journal Français de Psychiatrie e de La Revue Lacanienne.”, autor de vários livros sobre essas questões, o qual aceitou o convite da Letra – Associação de Psicanálise, https://letra-psicanalise.com.br/através da sua Presidente, a  Psicanalista Angela Valore. 

 

Dr. Jean-Jacques Tyszler e sua tradutora

Alguns dos trabalhos que foram ali discutidos

Os trabalhos apresentados,   por profissionais com uma grande experiência e tempo de clínica, nos possibilita a aprender cada vez mais sobre o assunto, como forma de atualização das teorias de Freud e Lacan, para que a nossa escuta na clínica e instituições, onde atuam os profissionais da área da saúde mental, possa estar em constante  reflexão e poder trocar experiências sobre os desafios de nosso trabalho nas questões da contemporaneidade.

Tyszler nos lembra que “não podemos tratar o psicótico como um deficiente,  e que Lacan queria ouvir a loucura o que aqueles, que na sua época, era tido como “loucos”,  queriam dizer. O que eles falam.  Era preciso ouvi-los. O que interessava para ele era o que eles diziam, o que eles lêem no mundo que ele, Lacan, não conseguia ouvir.  É essa a posição da psicanálise”. 

“Perante a Psicose a gente não tem que entrar em uma posição de prumo, seria como se nós neuróticos fôssemos vacinados contra as loucuras do mundo. (…) Imaginem a loucura que a gente conta para nós mesmos”.

“Lacan ia ao Hospital Psiquiátrico conversar regularmente com um ou mais pacientes  e fez isso até o final de sua vida.”

” (…) Nós devemos  ser capazes de interrogar os problemas cruciais sem sacralizar os nossos corpos. (…) Lacan foi em toda a sua vida respeitoso a Freud. Ele conversava com Freud, mesmo nos seminários topológicos. (…) Lacan lia em alemão e ele dizia que era preciso criar significantes novos para que a psicanálise seja entendida e Lacan já dizia, ainda,  que a Psicanálise não é conservadorismo. Não é isso a psicanálise. Lacan, antecipou grandes mudanças”.

“No Seminário sobre Psicose -não se trata somente sobre psicose mas, também, é o imenso seminário sobre a linguagem o que falar quer dizer? (…) A gente pode passar dias inteiros no blá-blá-blá, sem se falar. De vez em quando a gente se fala. (…) Lacan para avançar nessa situação difícil ele  parte da psicose, para retornar a uma questão comum, faz todo um desvio pela alucinação e pelo automatismo mental, para saber quando sabemos o que a pessoa está realmente falando (…) é uma abertura genial”.

“Lacan unificou a totalidade do campo da psicose. Um toque de genialidade.”

“Lacan já dizia que nossas sociedades não continuariam honrando o pai, que sairíamos da sociedade patriarcal.”

“Há uma tal variedade nas psicoses – um esquizofrênico, uma psicose maníaco-depressivo, uma psicose branca, uma psicose sem ego, sem falar da psicose infantil. (…) Um dia, na psicanálise de criança, um dia não vai ser como outro. É como o amor”.

Programa do Colóquio

 Abaixo a programação para que você possa ter conhecimento sobre o que foi desenvolvido nesses dias, pelos profissionais e a audiência que foi composta por profissionais da área, estudantes e interessados nos assunto, nos proporcionando mais conhecimentos e formas de trabalhar a clínica.

 

 

 

 

 

Angela Valore– ao centro – Presidente da Letra em Curitiba – e palestrante Letícia P. Fonseca, a direita, do Recife- que foi a organizadora do Livro “As depressões, o luto e a melancolia“, ed. Moebius, onde reúne seminários proferidos por Jean-Jacques Tyszler ao longo dos anos de 2014 a 2017 “na École Pratique des hautes Études en Psychopathologie, intervenções em colóquios e jornadas, bem como artigos recentes publicados em revistas e jornais”. 

Ter a oportunidade e o interesse em participar de eventos como esse, nos possibilita pensar a clínica diária e a grande responsabilidade, quando se trata de atender nossos pacientes que nos procuram. Estar atualizado e em constante aprimoramento dos conhecimentos nessa área, faz parte da ética do profissional que leva com seriedade o seu trabalho.

A esquerda Dulce Duque Estrada e Rejane Camarda – Rio de Janeiro – com o trabalho “Psicanálise ainda hoje: o tempo e o fantasma”

A esquerda, Marcos do Rio Teixeira, Bahia -“O Semblante em tempos de mudanças”; Ao centro, Fernando Hartmann, Rio Grande do Sul – “A Clínica cotidiana das psicoses”.

Um outro assunto que faz parte dos desafios da contemporaneidade, sem dúvida alguma, se refere às questões da tecnologia e das mídias sociais, onde temos vários aspectos positivos, quando bem utilizados, e também como é do conhecimento público, quando o uso dessas ferramentas por parte de pessoas mal intencionadas e da má utilização do que ela nos oferece, poderá sim causar danos até mesmo irreversíveis.

Um exemplo triste com o mau uso dessas tecnologias,  podemos citar aqui a última notícia que nos entristece, comentado nesse último domingo no Fantástico,  o caso da garota que veio a falecer com apenas 22 anos, quando entrou em um grupo para trocas de carona.

Adquiri o livro abaixo, lá no Colóquio, e comecei a lê-lo, onde vários artigos são publicados a respeito desse assunto. Pelo que entendi, o livro ainda não está disponível nas livrarias. Segundo informações, estará disponível nesses próximos dias e acredito que vale a dica para uma leitura a respeito, para que cada  um possa tirar suas próprias conclusões.

Enfim, volto desse Colóquio refletindo a respeito de tudo que ouvi por lá e aprendi e, cada vez mais, chego a conclusão que para trabalhar nessa área há algo em comum que define a escolha para isso. Um olhar de muito amor pelo ser humano e a crença de que é possível dar um lugar de escuta aqueles que, muitas vezes, são marginalizados por uma sociedade e/ou ainda por um diagnóstico (que nem sempre são os mais acertados), quando se trata da vida de uma pessoa, no que diz respeito à saúde mental. Os desafios são grandes, mas não impossíveis.

Devemos lembrar que, por traz de um diagnóstico, existe uma pessoa, um ser humano e que ele (a) é único e tem o direito de que não desistamos deles, principalmente, aqueles que se encontram mais próximos.

É preciso buscar informações, profissionais preparados e, mesmo para aqueles que não disponibilizam de condições financeiras para os tratamentos, há hoje em nossa sociedade vários locais que se dedicam a tratamento da saúde mental, até mesmo sem custo.

Precisamos encarar a realidade, a verdade diante daquilo que observamos e buscar tratamentos. Quero, ainda, para citar um exemplo, de tratamentos sem custo, citar as clinicas de atendimento psicológico que se encontram nas Universidades Federais, Estaduais e, algumas  escolas particulares que oferecem a comunidade, através de seus alunos, com supervisão de seus professores, possibilitando aos mais carentes um lugar para ser ouvido e se tratar.

Sabemos da dificuldade de nosso país na questão da saúde de um modo geral e, mais especificamente,  da saúde mental, mas é preciso acreditar e não desistir e, ainda, fazer o que é possível. O mais importante é estar em movimento, lembrando que todo ser humano é mais que um diagnóstico.

Quero agradecer e parabenizar a Letra – Associação de Psicanálise de Curitiba pela oportunidade e pela organização desse Colóquio. Sabemos do trabalho de muitas pessoas que se envolvem na organização de eventos como esse.

 

Era isso por hoje.

Obrigada pela sua visita. Você é sempre bem vindo(a) por aqui.

Um abraço.

Fique a vontade para expor sua opinião, afinal aqui discutimos ideias e não pessoas.

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