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A depressão e Sylvia Plath

Tempo de leitura 8 min.

Oi Gente

O objetivo do post de hoje é dividir aqui, com você, um pouco da curta história de vida dessa poeta americana que escrevia em formas de poemas, contos e seus diários as suas angústias, questões e reflexões sobre a vida e que se suicidou aos 30 anos.

Um pouco sobre sua Biografia

Sylvia Plath, nasceu em Boston em 27 de outubro de 1932. Sua mãe Aurela Schober Plath, era norte-americana, filha de austríacos e seu pai Otto Emile Plath, um imigrante alemão vindo de Grabrow.

Troubled childhood: Sylvia Plath, (pictured aged five) tried to cut her throat when she was 10-years-old

Seu pai era professor da Universidade de Boston, de alemão e zoologia e era um especialista em abelhas. Sua mãe, vinte e um anos mais nova que o marido.

Em 1935, seus pais lhes dão seu irmão Warren. Seu pai morre em 1940, logo após Sylvia completar 8 anos.

Aos oito anos, Sylvia publicou seu primeiro poema e, após uma semana e meia de seu aniversário, seu pai Otto faleceu em decorrência da amputação de uma das pernas devido a diabetes.

“Perhaps when we find ourselves wanting everything, it is because we are dangerously near to wanting nothing.”  Draft of letter to Richard Sassoon

Sylvia durante os anos de Faculdade

No seu terceiro ano de faculdade, Plath morou durante e 1 mês em Nova York e não foi aquilo que ela esperava e, a partir daí, começaria a ter uma outra visão sobre si própria e a vida em geral. Os eventos desse período serviram de inspiração para seu único romance: A Redoma de vidro.

Foi no Smith College que ela tentaria, pela primeira vez, se suicidar, através de overdose de narcóticos. Sylvia foi internada em uma instituição psiquiátrica, onde recebeu tratamentos de eletrochoques. Superado essa fase, Sylvia finaliza sua faculdade em 1955, no Smith College, com louvor.

Devido ao fato de ser uma estudante brilhante, Sylvia é agraciada com uma bolsa de estudos para a Universidade de Cambridge, onde continuava a escrever suas poesias e as publicava no jornal Varsity, organizado pelos estudantes.

O encontro de Sylvia com aquele que seria seu marido

Sylvia Plath: she said, "Ted, fuck  your adulterous shit. I'm going to make you look like an asshole to the whole world, hon."

No final de fevereiro de 1955, Sylvia conhece aquele que seria sua grande paixão, um jovem poeta britânico Ted Hugles, que já era admirado por ela pelos seus poemas.

Lettice Ramsay | Ted Hughes and Sylvia Plath
Ted Hugles e Sylvia Plath

No dia 16 de junho de 1955, eles se casaram em uma cerimônia simples.

No período de 1957 a 1959, o casal viveu nos Estados Unidos, período onde Sylvia deu aulas de inglês.

Ao se mudarem para Boston, Plath começou a assistir os seminários do poeta Robert Lowell, considerado o fundador da poesia confessional (“um gênero de poesia que se desenvolveu nos Estados Unidos da América, nas décadas de 1950 e 1960. Enfatiza a expressão da intimidade da vida pessoal do poeta, tratando de temas como doença, sexualidade e depressão”.)

Quando Sylvia descobre que está grávida de seu primeiro filho, se muda para Inglaterra, na cidade de North Tawton, em Devon. Nessa época, Sylvia publica a sua primeira coletânea de poemas “The Colossus”.

Poets in Partnership: Rare 1961 BBC Interview with Sylvia Plath and Ted Hughes on Literature and Love – Brain Pickings

Em 01 de abril de 1960, nasce sua primeira filha Frieda Rebecca.

Em 1961, Sylvia passa por um aborto, assunto que ela apresenta em um grande número de seus poemas.

Em janeiro de 1962, nasce seu segundo filho, Nicholas Farrar.

Em agosto de 1962, ocorre uma segunda tentativa de suicídio. “A escritora jogou o carro para fora da estrada, num momento em que estava só. Ela própria declarou que havia sido uma tentativa de suicídio. Nessa época ela havia descoberto que seu marido a havia traído e estava passando por uma crise conjugal.” Após 5 meses de sua separação e, antes que completasse 31 anos, comete o suicídio.

O relacionamento tóxico matrimonial de Sylvia Plath

Sylvia começa então a enfrentar problemas em seu casamento, onde Ted Hughes inicia-se uma relação extra-conjugal com Assia Wevill (sua melhor amiga alemã), levando a separação do casal em setembro de 1962. Sylvia nesse momento estava com dois filhos, Frieda e Nicholas e retorna a Londres.

Sylvia Plath e o marido Ted Hughes, Londres, em 1960 (Foto Hans Beacham)
Sylvia Plath e o marido Ted Hughes, Londres, em 1960 (Foto Hans Beacham)- via Pinterest

“O silêncio me deprimiu. Não foi o silêncio do silêncio. Foi meu próprio silêncio. Eu sabia perfeitamente que os carros faziam barulho, e as pessoas neles e atrás das janelas iluminadas dos prédios faziam barulho, e o rio fazia barulho, mas eu não conseguia ouvir nada. A cidade estava pendurada em minha janela, plana como um pôster, brilhando e piscando, mas poderia muito bem nem estar lá, pelo bem que me fez.”Sylvia

Mais tarde, nove cartas da poeta endereçadas a sua ex-terapeuta, Ruth Barnhouse, no período de 18 de fevererio de 1960 a 4 de fevereiro de 1963, foram descobertas e revelavam as agressões verbais e físicas sofridas pelo marido. Essas cartas, registram os momentos dolorosos que Sylvia viveu nesse relacionamento.

Em uma das cartas revela uma agressão física do marido dois dias antes de sofrer o aborto de seu segundo filho.

“Em uma terceira carta, de outubro de 1962, consta que Hughes desejava que Plath estivesse morta, e que teria afirmado isso verbalmente. Toda a agressão reflete na obra da poeta: naquele mesmo mês, ela praticamente terminou o livro Ariel, publicado em postumamente 1965, e que segundo ela, em uma carta à própria mãe, seria a “obra de sua vida”.”

Sylvia Plath comete suicídio em 11 de fevereiro de 1963

Sylvia, na parte da manhã de 11 de fevereiro de 1963, comete suicídio dentro de casa, tomando uma grande quantidade de narcóticos e coloca sua cabeça dentro de um forno, com o gás ligado, levando a morte em pouco tempo depois, aos 30 anos de idade.

Antes de realizar esse ato, Sylvia preparou leite e pão para os filhos e colocou perto de suas camas. Teve o cuidado também de vedar o quarto dos dois filhos e deixar a janela aberta, apesar da nevasca. Foi encontrada, somente na manhã seguinte, pela enfermeira Myra Norris, contratado por Sylvia e, quando essa chega ao apartamento, sentindo o cheiro do gás, pediu ajuda e a porta foi arrombada. As crianças foram encontradas com muito frio.

“Você consegue entender? Alguém, em algum lugar, você pode me entender um pouco, me amar um pouco? Por todo meu desespero, por todos os meus ideais, por tudo isso – eu amo a vida. Mas é difícil e tenho muito – muito a aprender. ” The Unabridged Journals of Sylvia Plath

Seu filho Nicolas Hughes, biólogo marinho, professor universitário e solteiro repetiria o ato da mãe, no dia 16 de março de 2009, em decorrência de uma depressão, se enforcando.

No ano de 1969, Assia também comete um suicídio: “Em 1969, a publicitária judia acabaria também por cometer suicídio através da inalação de gás do fogão, tal como fizera Sylvia.” Porém, Assia matou também Shura, a filha dela com Ted, com apenas 4 anos. Ted, assim como fez com Sylvia, havia arrumado outra paixão e Assia se vingou no estilo de Medeia.

O suicídio de Sylvia Plath é tema de vários estudos psicanaliticos

O que levaria uma jovem talentosa e cheia de vida a cometer um ato como esse, aos 30 anos?

Sylvia tinha o habito de escrever em seu diário, desde os 11 anos de idade, que foram editados por Karen Kukil em “Os diários de Sylvia Plath 1950-1962, que datam quando ela contava com 18 anos até 1962, pouco meses antes de seu suicídio”.

Tentar entender o suicídio é o desafio de várias áreas da ciência.

Na sociologia, segundo Durkheim, que publicou a sua famosa obra O Suicídio em 1897, dizia que “o suicídio em que se encontra hoje, é justamente uma das formas pelas quais se traduz a doença coletiva de que sofremos”, ou seja, que o suicídio está diretamente ligado as determinações sociais e, devido a isso, observando as estatísticas que ocorrem diferentemente em cada país, pode-se pensar que sim a influência de cada momento vivido na sociedade poderá influenciar na decisão individual para o ato suicida, principalmente quando há a quebra dos laços sociais.

Conhecemos várias histórias sobre a perda de um objeto de amor e, em seguida, vem a depressão, a melancolia e pode tomar conta do sujeito e levá-lo ao ato suicida.

Para Lacan, o suicídio é um ato radical, como uma passagem ao ato, onde o sujeito sai de cena.

Freud já dizia: “O amor é cura, mas também é loucura”.

Nesse site, você poderá ler uma tese interessante sobre o caso de suicídio de Sylvia Plath e algumas teorias psicanalíticas sobre esse caso.

As tentativas de suicídio e a passagem ao ato, são os grandes desafios e objeto de estudo dos psicanalistas, lembrando que a psicanálise oferece a possibilidade de reverter situações nesses sentido, possibilidades até porque a psicanálise é para todos, mas nem todos são para a psicanálise.

Frieda Hughes, daughter of Sylvia Plath and Ted Hughes, has given her first TV interview t...
Frieda Hughes, filha de Sylvia Plath aos 55 anos

Sylvia Plath só obteve o reconhecimento de suas produções literárias após a sua morte. Fato esse que fazia com que a poetisa se auto-recriminasse por suas produções literárias de pouco valor.

Ao pesquisar alguns trechos escritos em seu diário, observa-se uma jovem questionadora, filha de uma mãe que não amava seu pai e, talvez, a perda do seu pai aos 8 anos de idade com o qual se identificava, possa ter desenvolvido toda as suas questões com relação ao existir.

Segundo Alessandri, S. M. B., em sua tese de doutorado sobre: Um estudo psicanalítico acerca do suicídio por meio de Sylvia Plath, comenta nas suas considerações finais que, conforme relato de Sylvia em seu diário comenta que chegou a admitir a inexistência de amor de sua mãe para com ela e, ainda “Sylvia Plath não faz esse tipo de afirmação apenas com relação à sua mãe. Diz que passou a vida toda sendo afetivamente abandonada pelas pessoas que mais amava. E, ainda, nenhum homem a ama como um pai, cujo amor é incondicional”.

10 citações de Sylvia Plath

1- “Se você não espera nada de alguém, você nunca fica desapontado”- ( Plath em A redoma de vidro).

2- “Comigo, o presente é para sempre, e para sempre está sempre mudando, fluindo, derretendo. Este segundo é a vida. E quando se vai, está morto. Mas você não pode recomeçar a cada novo segundo. Você t4em que julgar pelo que está morto. É como areia movediça… sem esperança desde o início”. (The Unabridged Journals of Sylvia Plath)

3- “Eu gosto muito das pessoas ou nem gosto. Eu tenho que ir fundo, para cair nas pessoas, para realmente conhecê-las”. (The Unabridged Journals of Sylvia Plath).

4- Devemos nos encontrar em outra vida, devemos nos encontrar no ar, Eu e você.”( Lesbos)

5- Eu me sentia muito quieta e vazio, como deve sentir o olho de um tornado, movendo-me vagamente no meio do tumulto circundante”. (A redoma de vidro).

6- Eu escrevo só porque existe uma voz dentro de mim. Isso não vai ficar quieto.” ( Cartas para casa: correspondência, 1950-1963).

7- “Talvez quando nos descobrimos querendo tudo, é porque estamos perigosamente perto de não querer nada”.

8- Se eles substituíssem a palavra luxúria por amor nas canções populares, ficaria mais perto da verdade”.

9- “Deve haver algumas coisas que um banho quente não cura, mas não conheço muitas delas”. (A redoma de vidro).

10 – “Aniquilar o mudo pela aniquilação de si mesmo é o cúmulo do egoísmo desesperado. A maneira simples de sair de todos os becos sem saída de tijolos nos quais arranhamos nossas unhas”. (The Unabridget Journals of Sylvia Plath).

Sylvia apresentava uma história de vida onde oscilava entre os momentos depressivos, melancólicos e a busca de sentidos para a sua existência. Nesse caso, a escrita que é um canal de possível investimento contra esses sintomas, não foi suficiente para ajudá-la na elaboração de suas angústias, tristezas e fragilidade perante os desafios da vida.

“Os gregos chamavam à melancolia a bílis negra e não é crível que a ciência já tenha descoberto o gene que a determina, se é hereditária, contagiosa. Sabe-se que pode ser mortal. Sabe-se que esta espécie de perda fatal, esta falta sem objecto definido que habita tantos de nós, está na génese da arte, do conhecimento, mas também do crime, dos impérios. Uns transformam-na em obra, outros sucumbem-lhe. A melancolia é um sentimento antagónico ao colectivo e é ela que, tantas vezes, nos permite resistir ao apelo frenético das cidades reais e virtuais, que nos faz buscar a solidão essencial à leitura, ao estudo, à imaginação.” A arte não foi suficiente para impedir que Sylvia cometesse a sua passagem ao ato, saindo de cena, através de seu suicídio aos 30 anos.

O caso de suicídio de Sylvia Plath, além de seu histórico familiar e a depressão iniciada na sua adolescência, não encontrou no seu relacionamento amoroso o que a poderia livrar dessa passagem ao ato. O seu investimento libidinal não foi correspondido, além de todos os abusos que sofreu durante essa relação, fazendo, talvez, deixar de acreditar no sentido da vida, pois aonde a mesma direcionava o seu investimento de afetos sempre se sentia como não correspondida.

Enfim, Sylvia Plath, apesar do pouco tempo de vida, sem dúvida deixou o seu legado e, talvez, tenha sido uma das poetisas que melhor relatou através de seus poemas e seus contos as dores de sua depressão e angústia, quando ao escrever relatava sobre a sua vida.

Era isso por hoje.

Obrigada pela sua visita. Você é sempre bem vindo(a) por aqui.

Um abraço.

Referências:

ALESSANDRI, S.M. B. – Tese de Doutorado: Um estudo psicanalítico acerca do suicídio por meio de Sylvia Plath. pesquisado em: https://sapientia.pucsp.br/handle/handle/15724

https://pt.wikipedia.org/wiki/Poesia_confessional#:~:text=A%20poesia%20confessional%2C%20ou%20confessionalismo,como%20doen%C3%A7a%2C%20sexualidade%20e%20depress%C3%A3o.

https://www.buzzfeed.com/thebellejar/20-quotes-from-sylvia-plath-g0wk?sub=2707392_1872833

https://sapientia.pucsp.br/bitstream/handle/15724/1/Silvia%20Maria%20Barile%20Alessandri.pdf

https://revistacult.uol.com.br/home/relacionamento-abusivo-de-sylvia-plath/#.WO6bJybWBf8.facebook

https://observador.pt/2018/02/11/sylvia-plath-ha-55-anos-morria-o-corpo-e-nascia-o-mito/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Sylvia_Plath

2 respostas

    1. Olá Juliana

      Seja bem vinda por aqui. Uma depressão não ocorre por acaso. É sempre bom observar o que está ocorrendo ao redor e principalmente se a pessoa, possivelmente, não está passando por alguma situação de abuso.
      Obrigada.
      Um beijoo

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