O início da educação sexual na primeira infância

O início da educação sexual na primeira infância

Tempo de leitura 7 min.

Oi Gente

O post de hoje tem como objetivo refletir um pouco sobre esse assunto de educação sexual, onde os jovens pais mesmo com mais informações, algumas vezes, ainda não encontram respostas para perguntas que são trazidas pelos seus filhos de forma tão inesperada. Nesse momento, em alguns casos tanto o papai quanto a mamãe, ficam sem saber o que falar, se devem ou não falar, como falar sobre o assunto e essas dúvidas que são pertinentes na hora das primeiras questões sobre esse assunto…

 A curiosidade e os questionamentos referentes à sexualidade surgem desde muito cedo na vida da criança. Instigadas pelas descobertas em si mesmas e no ambiente em que vivem, sem pudor, elas brincam...:

Embora esse assunto vem sendo bem debatido, e existe hoje no mercado inúmeros livros orientando os pais sobre essa questão, o objetivo do post é apenas para fazer pensar sobre essa fase da primeira infância, principalmente a partir dos três anos, onde a criança já com um pouco mais de vocabulário, inicia-se a famosa época das perguntas sobre todos os assuntos, inclusive os relacionados a sexualidade.

É uma fase de muitas perguntas e, geralmente, são dirigidas diretamente aos pais ou aos seus cuidadores e educadores, pois são as pessoas que lhe conferem mais segurança. A criança gosta de brincar gente, pois é uma forma de aprender, mas entendam que ela está nessa fase interessada em desbravar e aprender tudo a sua volta. 

Vamos voltar um pouco na História

Para se ter uma ideia, até o início do século XX, falar de sexo era algo que deveria estar sempre em segredo. Freud em suas observações com seus pacientes, não estava inicialmente pensando ou querendo entender sobre a sexualidade, mas foi através de seus estudos que o mesmo foi escrevendo suas teorias e ali foi observando pela fala de seus pacientes que alguns dos sintomas apresentados no corpo e alguns distúrbios emocionais  tinham sim uma origem de ordem sexual.

Dá para se imaginar qual foi a reação da sociedade, naquela época, quando o mesmo escreveu um dos seus melhores e importantes trabalhos de sua vida que foi sobre os Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade, no ano de 1905, onde ele descreveu como se compunha o instinto sexual e os distúrbios que poderiam ocorrer, em seu desenvolvimento, na função da sexualidade?  

Mas como toda nova teoria encontra não somente aqueles que a rebatem, mas também  aqueles que acreditam e aceitam a inovação diante da evolução dos tempos, Freud escreve uma carta ao Dr. M. Fürst, “um médico de Hamburgo, para ser publicada num periódico dedicado à higiene e à medicina social, de que o mesmo era editor.” O que esse médico solicitou a Freud naquele momento foi que escrevesse sobre um esclarecimento sexual das crianças. 

Freud, no início de sua carta, se dirige ao Dr. M. Fürst, lhe escrevendo assim: “Sei que tem acompanhado meus esforços científicos com interesse, não refutando minhas ideias sem examiná-las, como fizeram muitos de nossos colegas, por eu considerar a constituição psicossexual e certos males da vida sexual como as causas primordiais das perturbações neuróticas, que são tão comuns”. (p.123) 

Embora esse esclarecimento tenha acontecido no início dos estudos de Freud sobre a sexualidade infantil, pois mais tarde ele continuou desenvolvendo, como relata Ernest Jones “conta-nos que Freud expôs o assunto de forma mais detalhada num debate realizado na Sociedade Psicanalítica de Viena a 12 de maio de 1909, já tendo discutido o assunto na reunião de 18 de dezembro de 1907. Trinta anos mais tarde, ele volta ao tópico da instrução sexual das crianças no último parágrafo da Seção IV do seu artigo Análise Terminável e Interminável (1937), mostrando que a questão é consideravelmente menos simples do que como aparece na presente abordagem.”

O que Freud se propôs a responder foram duas questões colocadas pelo médico naquela ocasião:

  1. “Devem as crianças ser esclarecidas sobre os fatos da vida sexual?”
  2. “Em que idade isso deve ocorrer e de que modo isso deve ser realizado?”

Eram essas então as duas questões colocadas ao Freud para que o mesmo pudesse responder e esclarecer sobre a sexualidade infantil. Freud então, faz os seguintes questionamentos?

  1. “Que propósito se visa atingir negando às crianças, ou aos jovens, esclarecimento desse tipo sobre a vida sexual dos seres humanos?” 
  2. “Será por medo de despertar prematuramente seu interesse por tais assuntos, antes que o mesmo irrompa de forma espontânea?”
  3. “Será na esperança de que o ocultamento possa retardar o aparecimento do instinto sexual por completo, até que este possa encontrar seu caminho pelos únicos canais que lhe são abertos em nossa sociedade de classe média?”
  4. “Será que acreditamos que as crianças não se interessarão pelos fatos e mistérios da vida sexual, e não os compreenderão, se não forem impelidos a tal por influências externas?”
  5. “Será possível que o conhecimento que lhes é negado não as alcançará por outros meios?”
  6. “Ou será que se pretende genuína e seriamente que mais tarde elas venham a considerar degradante e desprezível tudo que se relacione com o sexo, já que seus pais e professores quiseram mantê-las afastadas dessas questões o maior tempo possível”.

Você concorda comigo que essas questões, embora colocadas por Freud naquela época, pode-se dizer que ainda permanecem nos dias atuais, quando pensamos nesse assunto da sexualidade? Continuando a leitura do post você perceberá como Freud foi aos poucos dando suas respostas. 

Freud se utilizou de uma outra correspondência, do pensador e filantropo Multatuli (expressão latina para eu tenho suportado muito)que era o pseudônimo de um conhecido escritor holandês, E. D. Dekker. Vejam a resposta que de certa forma foi dada as questões anteriores:

“Ao meu ver, certas coisas são, em geral, exageradamente encobertas. É justo conservar pura a imaginação de uma criança, mas não é a ignorância que irá preservar essa pureza. Ao contrário, acho que a ocultação conduz o menino ou a menina a suspeitar mais do que nunca da verdade. A curiosidade nos leva a esmiuçar coisas que teriam pouco ou nenhum interesse para nós, se tivéssemos sido informados com simplicidade. Se fosse possível manter essa ignorância inalterada, eu poderia aceitá-la, mas isso é impossível. O convívio com outras crianças, as leituras por vir à tona, tudo isso na verdade intensifica o desejo de conhecimento. Esse desejo, satisfeito apenas parcialmente e em segredo, excita seu sentimento e corrompe sua imaginação (…)”. 

Freud ainda resume isso da seguinte forma: “Com exceção do seu poder de reprodução, muito antes da puberdade já está completamente desenvolvida na criança a capacidade de amar; e poder-se afirmar que o clima de mistério apenas a impede de apreender intelectualmente as atividades para as quais já está psiquicamente preparada e fisicamente apta”. (p.125)

A criança de 3 anos e seus questionamentos 

Geralmente, a partir dos 3 anos de idade,  a criança começa a fazer determinadas perguntas para os pais e uma das primeiras que ocorre é quando ela consegue observar as diferenças do sexo: Por que (o menino) ele tem um pipi e a mamãe ou a irmãzinha não tem? Ou vice-versa.  Logo depois vem a curiosidade sobre como é a origem dos bebês. Como o bebê entrou dentro da barriga da mamãe? da titia? E aí entra a forma como cada casal resolve falar sobre o assunto.

Devemos lembrar que atualmente com a mídia explorando a sexualidade, seja nas danças, no vestuário, nas cenas de novela, filmes, o desafio dos pais se tornam ainda maiores, pois as questões vão surgindo e, muitas delas, nem os pais pensaram a respeito ou tem a resposta para a questão, até porque alguns realmente não sabem nem para eles próprios e aí,  como então lidar com esse tipo de situação? O que devo ou não falar ao meu filho(a) de três anos? Como falar sobre isso?

Não existe uma receita certa para cada questão gente e caberá ao casal, nesse momento e mais tarde também aos educadores de  cada criança estar pelo menos atento e valorizar as perguntas do pequeno aprendiz, em busca de suas curiosidades. Procurem apenas deixar o canal aberto para que os pequeninos venham até você em busca desse conhecimento.

Mas não se preocupem em demasia com isso, pois os pais saberão sim educá-los da maneira como os dois decidirem. O que os educadores dessa área nos orientam é sobre falar a verdade, o que não significa ter que sentar a criança de três ou quatro anos na sua frente e dar uma aula completa sobre sexo e sexualidade.

Caberá aos pais estarem ali atentos para que as respostas sejam as mais verdadeiras possíveis, em uma linguagem coerente com a idade da criança e tentar responder aquela pergunta específica da criança. Se atente a responder apenas o que ele (a) está perguntando naquele determinado momento.

Talvez o seu filho, por exemplo, possa vir com uma pergunta assim: Papai ou mamãe o que é uma camisinha? as vezes escutou algo a respeito e não entendeu. Você poderá responder da seguinte forma, por exemplo: Uma camisinha é uma camisa pequena e observar a reação dele, se naquele momento ficou satisfeito com a sua resposta.  Se sim, ok. Pode ser que, naquele momento, isso foi suficiente para ele ou ela. 

Aguarde outro momento que ele possivelmente retornará com mais perguntas sobre o mesmo assunto, e na sua observação, encima do que ele(a) perguntar você irá aos poucos respondendo, de forma que não adiante também a curiosidade das descobertas deles. 

Procure agir com naturalidade sobre esses assuntos, podendo passar mais segurança e confiança a criança.Fazer de conta que não escutou ou que não quer responder, ou ainda, desvalorizar a questão não será a melhor saída para a criança. “A curiosidade da criança nunca atingirá uma intensidade exagerada se for adequadamente satisfeita a cada etapa de sua aprendizagem”. (p.129).

Freud ainda nos fala, nessa carta: “Não me parece haver uma única razão de peso para negar às crianças o esclarecimento que sua sede de saber exige. Certamente se a intenção dos educadores é sufocar a capacidade da criança de pensamento independente, em favor de uma pretensa “bondade” que tanto valorizam, não poderiam escolher melhor caminho do que ludibriá-la em questões sexuais e intimidá-la pela religião. As naturezas mais fortes, é verdade, resistirão a tais influências e se tornarão rebeldes contra a autoridade dos pais e, mais tarde, contra qualquer outra autoridade. Se as dúvidas que as crianças levam aos mais velhos não são satisfeitas, elas continuam a atormentá-las em segredo, levando-as a procurar soluções nas quais a verdade adivinhada mescla-se da forma mais extravagante a grotescas falsidades, e a trocar entre si informações furtivas em que o sexo é apresentado como uma coisa horrível e nauseante, em consequência do apresentado de culpa dos jovens curiosos (…).” p. 128

“O que realmente importa é que as crianças nunca sejam levadas a pensar que desejamos fazer mais mistério dos fatos da vida sexual do que de qualquer outro assunto ainda não acessível à sua compreensão; para nos assegurarmos disso, é necessário que, de início, tudo que se referir à sexualidade seja tratado como os demais fatos dignos de conhecimento.” (p.128) 

Enfim, o mais importante é passar ao seu filho(a) a certeza de que você estará ali para responder aos seus questionamentos e quando, realmente não estiver pronto para responder ou até mesmo não saber, diga a verdade, sempre a verdade. Vá em busca de conhecimento e diga ao seu filho(a) que assim que você souber contará a ele (a)

Era isso por hoje.

Obrigada pela visita. Você é sempre bem vindo(a) por aqui.

Um abraço.

 

 

Referências:

https://chasqueweb.ufrgs.br/~slomp/edu01011/freud-esclarecimento-sexual.pdf

Volume IX da Edição Standar Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. (p. 123 a 129). Ed. Imago, 2006.

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